O crítico papel
O CRÍTICO PAPEL
(crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 22.10.2008)
Do artigo "O crítico papel da crítica", escrito em 04.02.1980 e publicado, se a memória não falha, no jornal "Boi-de-Mamão", editado à época pela Fundação Catarinense de Cultura:
"Álvaro Lins, em 'Valores e misérias das Vidas Secas', estudos críticos anexados à novela 'Vidas Secas' de Graciliano Ramos, alude a estes problemas de relacionamento entre crítico e escritor, ao ressaltar a dificuldade existente para uma análise esclarecedora e definitiva da obra devido à 'circunstância de ser o Sr. Graciliano Ramos um autor contemporâneo, uma figura que encontramos nas ruas todos os dias. (...) Outros obstáculos decorrem do respeito com que o crítico está sempre obrigado a tratar a figura pessoal de um autor vivo, pois somente a morte confere o direito de um julgamento definitivo, de uma interpretação minuciosa e profunda.'
"Estas considerações não o impediram, todavia, de ver em 'Caetés' um 'livro falhado e sem valor' onde 'os personagens são tipos convencionais, que não se individualizam nem pelos seus atos nem pelos seus caracteres.' Julga ainda que 'o enredo de 'Caetés' é comum e destituído de interesse.'
"Estas apreciações conferem ao crítico autoridade para ressaltar de maneira isenta as qualidades, por exemplo, de 'Vidas Secas', 'Infância' e 'Angústia'. O mais importante é que, orientado por este balizamento, o leitor pode confrontar sua opinião com a do crítico, daí resultando, ou não, a identidade de pontos de vista entre ambos."
Atento aos "maiores e melhores escritores do estado e do país eternamente esquecidos pelos donos da cultura oficial", o texto indaga, por conta do velho confronto entre crítica e autores:
"Quanto aos maiores e melhores escritores do estado e do país, duelos à parte, que cada qual ponha a mão na consciência de seus personagens e se muna de uma dose razoável de humildade para escutar o que se tem a dizer sobre seu trabalho: quem sabe a opinião é justa e o próximo livro possa ser melhorado um pouquinho?"
Este cronista, autor do artigo em questão, expressava há 29 anos a sua inquietação sincera, a sua esperança:
"A veiculação de crítica de livros através de jornal, rádio e televisão será talvez uma das maneiras de se estimular o hábito da leitura e de se divulgar a literatura catarinense. É necessário instigar o leitor, e nada mais adequado a este objetivo que análises honestas e sinceras."
Quanta ingenuidade, não?
(Amilcar Neves é escritor e autor, entre outros, do livro "Relatos de Sonhos e de Lutas", contos)