A criatividade do jogador de futebol brasileiro
A criativaidade do jogador de futebol brasileiro
Félix Maier
O jogador de futebol brasileiro é extremamente habilidoso. Cinco vezes campeão do mundo (nada de pentacampeão, pois fomos apenas bicampeões, ao vencer as Copas de 1958 e 1962), em qualquer recanto do mundo que você vá, ao saber que é do Brasil, todos imediatamente ligam o país a Pelé, Garrincha, Rivelino, Sócrates, Zico, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Robinho e, agora, também Pato.
Como legítimo "país do futebol", o jogador brasileiro não poderia deixar de ser o criador de dribles e jogadas acrobáticas que todo mundo tenta imitar, como veremos a seguir.
Didi foi o inventor da "folha seca". Na cobrança de uma falta, o goleiro se atirava na direção certa da bola e esta, no último momento, caprichosamente desviava para dentro do gol, devido ao "efeito" dado pelo craque na bola. Como se fosse uma folha seca caindo de uma árvore.
Leônidas da Silva, o "Diamante Negro", foi o criador da "bicicleta", jogada que exige muita inteligência, para acompanhar o tempo exato da bola, e uma acrobacia própria de circo.
Reinaldo, do Atlético Mineiro, inventou o que eu chamo de drible da "patinete". Ele jogava a bola em velocidade, à beira do campo e, inopinadamente parava a bola. Antes de o marcador saber o que iria fazer com ela, Reinaldo dava um "tapa" na rechonchuda e a pegava na frente, sem chance de marcação para o adversário. Isso em fração de segundo, a paradinha e o toque da bola à frente.
Rivelino é considerado o inventor do "elástico". Consiste no drible em que o jogador, com a bola "grudada" no pé, finge que vai lançar numa direção e, abruptamente, muda 180º, deixando o adversário com a espinha quebrada. No entanto, em uma entrevista, Rivelino disse que aprendeu essa jogada com Sérgio Echi, companheiro nos júniors do Corinthians. Outros bons jogadores do elástico foram Romário - existe um gol antológico do "Baixinho" em cima de um zagueiro do Flamengo, em jogo de decisão, pelo Vasco -, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Robinho. Atualmente, tem muito branquelo europeu tentando o drible, normalmente sem sucesso.
Sócrates, ídolo do Corinthians, era craque nos passes de "calcanhar". Alto, desengonçado, para que virar o corpo e então dar o passe? Não era mais fácil passar a bola com o calcanhar? Uma jogada tão simples só podia vir de um jogador muito inteligente - do futuro médico, Dr. Sócrates.
Um lance de extrema beleza plástica é o passe ou chute "de letra". Consiste em dobrar uma das pernas por trás da outra e fazer um passe para o companheiro. Normalmente, é feito por quem não é canhoto ao atacar pela esquerda, ou vice-versa. Há vários gols que resultaram desse tipo de lance, próprio de "jogador abusado", que é o jogador brasileiro.
Pelé, o "Rei do Futebol", não poderia deixar de criar dribles e lances tipicamente seus. Inventou a "paradinha", antes de bater o pênalti, que a FIFA proibiu e depois desproibiu. No atual Campeonato Brasileiro, a "paradinha" voltou com força total, para desespero dos goleiros.
Outra criação magistral de Pelé foi o "drible do chapéu". É antológico o gol que fez contra a Suécia, na decisão da Copa de 1958, quando encobriu o beque e, antes de a bola bater no chão, chutou de primeira e fez um dos mais belos gols de todos os tempos.
Pelé é também o criador do "gol de placa". Em um jogo do Santos contra o Fluminense, no Maracanã, em 1961, Pelé pegou a bola no meio do campo e foi driblando todo mundo, até o goleiro, e fez um gol histórico, que mereceu uma placa no Maracanã - daí o nome "gol de placa"
Recentemente, Robinho teve também perpetuado no Maracanã uma jogada maravilhosa, em uma seqüência fotográfica, feita sobre um adversário do Equador, em jogo pelas eliminatórias da Copa. Foi um drible, digamos, "vem prá cá, que eu vou prá lá"...
Robinho pode não ser seu inventor, mas é o jogador que melhor executa a "pedalada". A jogada consiste em passar os pés sobre a bola, alternadamente, de modo a hipnotizar e deixar tonto o marcador, que não sabe o momento exato de dar o bote. É antológica a jogada que Robinho fez sobre Rogério, do Corinthians, na final em que o Santos foi campeão brasileiro em 2002. Depois de oito pedaladas, sofreu pênalti, convertido em gol. Infelizmente, o Corinthians censurou a jogada no documentário Ginga (Cfr. http://www.lustosa.net/noticias/18006.php).
E quem teria inventado o drible "entre as pernas", também apelidado de "entre as canetas"? E o "drible da vaca"? E a "chilena"? E a "deixada", em que o jogador finge que vai bater na bola e a deixa passar para outro companheiro finalizar a gol?
Pintinho, atacante do Fluminense, tinha uma jogada só sua, o "passe para si mesmo". Na entrada da área, em vez de passar a bola para um companheiro, ele jogava a bola à frente, ficando na cara do goleiro para fazer o gol.
Tostão era um craque em jogar sem bola. Sabia puxar os adversários para um canto da área, deixando seus companheiros livres no outro canto. Hoje, cronista esportivo de sucesso, costuma exercer seu senso de humor: "Diferentemente do que dizem, a Seleção tem sido regular. Joga mal quase todas as partidas" (Correio Braziliense, 12/10/2008, pg. 44, "Coluna do Tostão"). Uma crítica aos empates da Seleção brasileira em casa, em 2008, pelas eliminatórias da Copa.
E aquele drible incrível da Marta, uma mistura de "chilena" ou "chaleira" com "drible da vaca"?
A "carretilha" é uma jogada típica de futebol de salão, embora possa ser também aplicada no futebol de campo. Consiste em prender a bola com os dois calcanhares, erguê-la atrás do corpo e, com um toque de calcanhar, jogá-la por cima do corpo, tanto de si mesmo, quanto do adversário, de modo a pegar a bola livre na frente, deixando o marcador tonto, sem saber onde a bola foi parar. Falcão, craque da Seleção Brasileira de Futsal, imortalizou tal jogada, com gol, em 2005.
Em 2007, outro "jogador abusado", Kerlon, do Cruzeiro, fez muito sucesso com o "drible da foca". A jogada consiste em ficar "quicando" a bola na testa e levá-la até a área, para finalizar com chute nas fuças do goleiro. Isso se o Coelho do Atlético Mineiro permitir... (Cfr. vídeo clicando em http://video.globo.com/Videos/Player/Esportes/0,,GIM731670-7824-KERLON+APLICA+O+DRIBLE+DA+FOCA+E+CAUSA+CONFUSAO+NO+CLASSICO+ATLETICOMG+X+CRUZEIRO,00.html).
Enquanto isso, os hermanos argentinos só inventaram o "gol com a mão", feito pelo craque Maradona no jogo contra a Inglaterra na Copa de 1986, no México. Cinicamente, Maradona apelidou "gol de Deus" o que foi apenas um "gol roubado", que levou seu time adiante na competição e ficou com a taça ao vencer a Alemanha na final. Claro, o "gol roubado" foi depois de Maradona fazer um gol antológico contra os ingleses, em que pegou a bola antes da linha divisória do campo, driblou uma fila de adversários, inclusive o goleiro, e tocou a bola no fundo das redes - um verdadeiro "gol de placa".
Ah! Ia-me esquecendo. Tem o "drible do vento", do chileno Valdívia, nome proposto pelo jornalista Flávio Prado. O lance consiste em "furar" propositadamente o chute, para enganar o adversário e, assim, melhor fazer o passe ou finalizar a gol.
Depois de tantas criações extraordinárias, o que mais o jogador de futebol brasileiro tem para nos presentear?