TIROTEIO
Tire esta flecha apontada para mim, abaixe esta arma, disparei a gritar, alucinado. Em uns raros momentos, faço reflexões, exercícios, flexões mentais. Sou o mais louco do planeta. Em um parâmetro louco de comparação, só perco para mim mesmo, em loucuras. Por isso, prossigo, afirmando, aos gritos, feito louco, que sou o louco mais louco do mundo, pelo menos deste mundo, desconhecido.
Eu estou tentando falar com Ele. Estou tentando, mas Ele não me responde. Quem é Ele, a não ser Ele mesmo?
Conheco uma pessoa que é tão cheia de si que chega a ser vazia.
Certa vez, conversando com uma nuvem, perguntei: porque te derrete toda, me molha e depois evapora?
Ela nem respondeu, não sei, começou a chorar. Sensível? Mudei de assunto, falei do clima, o tempo está tão mudado, mas não adiantou, foi uma tempestade de lágrimas. Insensível. eu? Não, apenas sou o que sou e o que não sou, ou pensei ser, apenas um fragmento disperso no cosmos. E Ele? Continuo tentando manter contato, mas as respostas às perguntas não chegam nunca.
Procede a afirmativa de que o sol é o que é por falta de concorrente no sistema? Mas dizem que isto um dia vai acabar. Eu acredito. Todas as teorias, mesmo as mais estranhas e descabidas, podem um dia vingar, basta dar tempo ao tempo, não é uma loucura?
Mas depois deste tiroteio todo, o tiro saiu pela culatra, ou seja, a loucura é mesmo um santo remédio, e me curei, saí perambulando pelo mundo, satisfeito, indiferente, diferente de tudo o que tinha sido, ou pensei ter sido, mas falando sério (?), quem consegue viver neste mundo de meu deus sem um pouco de loucura?