A Segunda-feira

A Segunda-feira

suzabarbi@hotmail.com

Acordou na segunda-feira certa de que escreveria um livro de auto-ajuda. Pensou na sua noite de domingo e de cara pôs título no livro: “Na minha vida não rola nada – Uma abordagem antidepressiva”.

Na frente do espelho, protagonizou o primeiro capítulo, repetindo o mantra: “eu não sou uma ratazana”; “eu não sou uma ratazana”, uma forma de, talvez, acreditar que realmente não era uma!

Estava péssima e precisava fazer alguma coisa para que o seu dia não fosse horrível.

Acordou numa ressaca de fazer dó.

Não conseguia tomar nem água, o que diria comer um mamão!

Já se sentia o próprio mamão.

Jurou que não beberia nunca mais.

Nem um chopp com os amigos.

Seria adepta do chá verde.

Não comeria mais carne.

Só verduras.

Queria ficar verde porque um vegetal ela já se sentia naquele momento.

Tentou ir até o banheiro para tomar um banho.

Caiu durinha no chão e só pensou outra vez que bebida nunca mais, quando sentiu o teto rodar novamente.

Quis morrer ao se dar conta que trabalho naquele dia nem pensar!

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Acordou uma hora depois.

A cabeça ardia mas conseguiu se levantar e tentar alcançar o segundo horário de serviço.

Naquele estado, precisava encontrar com o Betão na garagem do prédio?

Ele, um gato. Ela, um caco.

Claro que ele disfarçou mas percebeu que o domingo dela tinha saído dos trilhos.

Ela fez a maior cara de paisagem do mundo e entrou no carro na velocidade que sua dor de cabeça permitiu.

Não queria que ele tivesse tempo de ver seu estado ainda bem amarrotado.

Mas ele viu.

Foi até a janela do carro e fez o mais terrível comentário que uma pessoa pode escutar depois de uma bebedeira:

– Você ontem, heimmmm? (e ele caprichou no heimmmmm.....).

– Eu ontem o quê?

– Escutei música alta no seu apartamento e vi que a festa estava animada... Da próxima vez, vê se convida...

– Rãm...rãm..., respondeu, já engatando a primeira e colocando o carro para andar.

Bonito mas intrometido.

Do que adiantava, então?

Definitivamente, Betão seria cortado da sua lista de prováveis.

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Depois de um dia insuportável, chegou em casa.

A geladeira estava vazia.

Não tinha ânimo para sair e comprar nada.

Queria cama e alguém que pudesse amá-la e cuidar de sua ressaca.

A cama estava a sua frente mas o alguém estava dificílimo de encontrar.

Deitou.

A barriga começou a roncar.

Melhor tentar dormir e esquecer aquilo mas uma mistura de fome e ressaca insistia em esparrodar com o seu sono.

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Acordou assustada e foi fechar as janelas. Estava trovoando. Da janela da sala, que estava escancarada, olhou para o céu.

Estrelas pra todo lado. Nenhum sinal de chuva.

Que barulho era aquele, afinal?

Custou a entender. O barulhão vinha da sua barriga.

Ligou para uma pizza delivery.

Duas mil calorias consumidas em menos de cinco minutos e de madrugada.

Perdeu o sono e ganhou peso.

E pensou: “Isso lá é vida?”

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No dia seguinte, estabeleceu regras a serem cumpridas: faria ginástica e encontraria um grande amor.

Bebida era para nunca mais.

Mas não foi nem na academia e nem nos lugares que tinha o hábito de ir que encontrou aquele que poderia ser um grande amor.

Foi no Pronto Socorro.

A colega de serviço teve uma crise de pânico quando ficou presa no elevador do escritório e ela foi a responsável por levá-la ao atendimento de urgência.

Enquanto a colega era atendida, um médico, vendo-a ali sozinha e nervosa, convidou-a para um cafezinho. Estava no horário de almoço mas ele nunca almoçava. Apenas bebericava um café.

- Isso ainda pode te dar um bom problema de estômago!

- Esqueceu que o médico aqui sou eu?

E os dois riram pra valer e dali mesmo combinaram um encontro para a noite.

Nada que envolvesse álcool, ela pediu.

- Problemas na área?

- Não. Apenas uma promessa...

Ela saiu dali em júbilo!

Ele era lindo, médico e solteiro.

Iam saborear um fondue.

A noite seria perfeita.

Quando chegou em casa lembrou que tinha esquecido a amiga no pronto atendimento.

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Alguns meses de namoro depois, descobriu que ele era o parceiro ideal.

Estava apaixonada. Além do mais, com ele não tinha restrições para vivenciar muitas de suas fantasias eróticas, digamos assim.

E pediu-lhe para que ele se fantasiasse de Super Homem.

Queria ser salva pelo Super Homem.

De todas, esta era a proposta mais estranha, ele pensou.

Mas topou.

Ela ficaria amarradinha na cabeceira da cama e ele entraria no quarto para salvá-la.

Assim planejado, assim feito.

Ele só não contava com um pequeno problema: o tapete ao lado da cama.

Quando ele entrou no quarto vestido do herói e simulando um vôo, escorregou no danado, bateu com a cabeça na cabeceira da cama e foi cair desmaiado em cima de uma heroína nua e amarrada.

Achando que tinha um Super Homem morto em cima dela, começou uma gritaria enlouquecida chamando por socorro.

Dois vizinhos ouviram e arrombaram a porta.

A cena vista é contada até hoje por toda a cidade.

Ao casal de heróis, restou a mudança de cidade, quiçá de país...

E eles se mudaram.

Ela para o sul.

Ele para o norte.

Nunca mais se viram.

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Era hora de estabelecer novas regras: sonhos eróticos, nunca mais!