21 GRAMAS

ESQUEÇAM AS HORAS. O corpo já foi levado. O azul da noite ainda estampa o rosto. Boca muda poeira. Ausentes versos, palavras, sons. O maxilar articula contra a vontade. Do corpo. Versos transmitem desejo. Suas mãos tateiam meu sexo. Sua língua saliva. Eu mudo. A seus pés.

Noite passada tomamos todos um porre & fomos brincar de divindades no canteiro central da rodovia. A rádio ainda sintoniza canções da moda, a rua já limpa do mal-cheiro da feira livre contradiz o silêncio. Agora sabemos com quantos buracos se enche o Villa D’Aldeia. Divagamos sobre os cadáveres da vanguarda – parafraseando Ferreira Gullar - e como dar sobrevida às múmias da cidade-dormitório.

Lembro-me de Ana C., poeta que se matou pulando de um prédio. Esqueçam as poesias de amor. Quanto pesa o amor? Esqueçam as horas. O corpo já foi levado.

A morte não usa luvas de pelica.

Wallace Puosso

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Wallace Puosso
Enviado por Wallace Puosso em 16/03/2006
Reeditado em 13/04/2009
Código do texto: T124158
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