Quando morávamos no Rio de Janeiro, estudei nos últimos anos, no Colégio Cruzeiro, um colégio alemão com a disciplina rígida.
Eram tempos em que as filas eram separadas, a dos meninos e a das meninas.
Havia grandes escadarias, uma em cada canto do corredor, onde também uma era pra eles outra pra elas. Estranho pensar nisso hoje, mas era assim e olhem que não sou jurássica...
Bem, até no barzinho da escola devíamos fazer essa separação nas filas.
Mas, nas classe, sentávamos juntos, não havia essa distinção e então, as bagunças eram mistas e das boas. Aprontávamos bastante.
Tinha um professora, de tranças enroladas na cabeça, D.Julieta, nunca esqueci seu nome ,que tinha por hábito, antes de começar a aula, fazer uma espécie de relaxamento e movimentos de inspiração e expiração que dizia fazer bem para que nunca ficássemos com "saboneteiras", como ela se referia aos ossinhos afundados ao lado do pescoço.
Na verdade, eram exercícios que ajudavam a nos manter mais tranquilos. De qualquer forma foi algo que nunca mais esqueci entre tantos fatos marcantes por ali.
Eu morava no Flamengo e o colégio era bem longe.
Então eu ia com o ônibus escolar, onde ali mesmo começava a festa. Sentava sempre no último banco e era uma farra antes das aulas.
A tragédia era o retorno pois eu após as aulas , tinha que fazer aulas de alemão(D.Gerda) e ainda esperar o ônibus voltar da primeira viagem. Assim, nesse intervalo, havia um gordo e velhoprofessor, Sr. Jonas, que cuidava da turma e coordenava tudo para que usássemos o tempo fazendo os temas para o dia seguinte...
Ora bolas, quem é que aguentava tanta reponsabilidade e ficar quietos tanto tempo, só com coisas "chatas"??? Poucos, entre os quais eu não me incluía.
Queria mais era agitar e fazer folias... Assim aquele alemão muito "delicado", me colocou o nome "muito gentil":câncer, pois eu era, para ele, incurável.
Parece que o vejo, ainda hoje, correndo de um para outro lado, pois eu levava baratinhas cri-cri, aquelas que fazem barulhos e dava para colegas em outros cantos da sala.
Assim, quando um lado estava quieto, o outro começava, quase enlouquecendo aquele pobre professor.
Tenho certeza que fui medonha, mas por força dos horários muito puxados e ainda por cima, sem almoço. Retornava para casa por volta das 14.00 horas.
Era braba a coisa. Mesmo assim, valeu!
Conseguia me divertir ainda assim!
Tinha ainda a Frau Margarida, que dava aulas de francês e inglês, era uma velhinha bem baixinha ( essa era a imagem que tínhamos dela, no entanto não devia ter mais do que eu hoje...). Um dia, ela me aparece na sala com os joelhos todos esfolados, toda ralada.
Havia caído e o pior...perdera sua dentadura... E mesmo assim, a crentona ainda foi dar aula.
Como eu sentava no primeiro banco perto do púlpito(assim era naquela época) fui uma das primeira a observar esse detalhe dos dentes ou...a falta deles.
Foi muito engraçado e como podem imaginar, nada mais consegui fazer naquela aula, pois as risadas eram mais fortes do que minha vontade...
Lembro ainda que no dia que tivemos que sair do Rio pra voltar para o RS, era no meio do ano e os professores todos fizeram a maior despedida junto com os alunos e até o diretor, Seu Borges, como o chamávamos, a quem eu frequentemente visitava compulsoriamente, veio se despedir de mim.
Isso também evidenciou um tratamento diferenciado, onde não parecia que fôssemos apenas números, mais um entre os muitos alunos e sim uma aluna.
E olhem, tenham certeza que não fizeram isso como festa por estarem se livrando de mim, me acompanhando até o portão pra ter certeza que eu realmente me ia,rsrssr...
Fatos como estes ficam pra sempre guardados e agora acabamos de matricular o Neno que no próximo ano inicia o seu primeiro ano, num colégio que é o mesmo desse de lá, até professores daquele vieram para cá.
Espero que ele receba o mesmo tratamento como gente e não como número e que possa após tantos anos, como eu, lembrar tanta coisa boa de um colégio... E que faça suas peraltices mas das boas como aquelas...
Essas fazem bem e nos fazem ser crianças na hora certa e ter o que contar depois...(Chica)
Imagem: emblema que era colado no bolso da blusa do uniforme(Google)