ELES

ELES

Chegaram, correndo, zangando meio que brincando, ela se intimidando...

Que houve de diferente? Ela estava ou está suscetível e inclinada a ceder e ficar pra trás? Ou não foi isso, foi outra coisa que ainda não percebeu? Eles já chegaram a toda energia continuada lá de fora, da rua, de suas vidas, num pique de comando, uma energia ou postura de quem é o certo, de quem sabe das coisas... Ou é ela que está menos hoje, será isto a velhice? Teve esta sensação e não entendeu a postura deles...

Chegaram adversos para ela, exigentes, atendendo a outros apelos deles particulares, e ela ali no caminho deles, quase como uma obrigação a ser cumprida...

Não pode crer que já seja pra eles uma impaciência, às vezes. E nem que ela temendo isto, passivamente entra no clima deles, “o silêncio das ovelhas”, como ela fazia com o marido só para preservar a harmonia familiar; foi algo assim?

Foi um descompasso. O que perdeu? O que não viu?

Porque hoje ela se aprontou correndo indo almoçar com eles, se ela nem queria? A casa estava tão boa, calma, paz... E teve a sensação de perda e deles a vitória?

Aconteceu hoje um equívoco e não sabe se deles ou se dela. Foi um dia perdido. Ela se esvaziou das boas energias. Estava tão de bem com a vida sozinha em casa! Tava bom escrever uma crônica...

Sempre que vinham visitá-la, era uma animação, perdia a cabeça no seu aqui - agora e começava a arrumar a casa, preparar coisas gostosas que eles gostavam tudo motivo de alegria, quase festa...

Que boba tão normal eles virem vez ou outra... Mas, ultimamente, vinham menos. E vinham rapidamente, sempre ocupadíssimos, com muitos compromissos, monte de coisas, os colegas, o trabalho.. Nunca chegava, a saber, ao certo o que tanto os ocupava. Era claro que não gostavam de estresse, nada de problemas familiares, só queriam coisas positivas. Contemporâneas, alegres.

Antes de eles chegarem já era estabelecido algo no qual ela não fazia parte. O almoço foi corrido. O filme, que a sessão já ia começar.

Depois o taxi pra casa.

Eram apenas filhos.

MLUIZA MARTINS