Jamais esteve nos meus planos passear numa limusine, em especial porque o preço a ser pago certamente seria altíssimo. Além do mais, por também pensar não valer a pena pagar uma fortuna somente para afagar o ego. Tenho inúmeras outras prioridades mais inteligentes e muito mais óbvias do que um mero capricho sem sentido. Naturalmente, se ganhasse um grande prêmio na loteria não me furtaria a esse nababesco mimo, afinal de contas dinheiro fácil existe para a realização de sonhos estaparfúrdios mesmo. Descartada ficava, então, qualquer possibilidade de adentrar no luxo e conforto de tal objeto de desejo em uma ocasião dita cotidiana, normal.
Mas eu não contava com as voltas que o mundo dá nem com as esquisitices do destino em suas determinações quase sempre inesperadas. Às vezes aquela preciosa oportunidade surge de inopino na nossa vida, bate subitamente à nossa porta e sorri para nós tão logo esta abrimos. O abraço apertado subsequente da sorte, um doce estado frenético atravessando a alma, tudo isso é a prova inequívoca de que aquilo surgido do nada é para nós mesmo e não podemos, de modo algum, abrir mão disso. Restando, por conseguinte, agarrar com unhas, dentes e ânsia o sorriso chegando. Então é sair mesmo com tudo para o abraço.
Eu e minha esposa já tínhamos decidido almoçar num restaurante do centro de Gramado conhecido por seus pratos sofisticados e ambiente agradabilíssimo, só não sabíamos o brinde especial que receberíamos por essa decisão. Por uma dessas felizes coincidências da vida, vi um folheto do dito restaurante sobre o balcão da recepção e fui por ele atraído. Estava lá. Eles mandavam a limusine apanhar o cliente na porta do hotel. Bastava telefonar. Olhei para Ana todo sorridente e disse, meio enigmático: Vamos passear de limusine? Então exibi o folder e ela expressou sua alegria num belo sorriso. Saquei meu celular e liguei o número indicado. Quando atenderam, falei sobre minha condição de hóspede de um hotel na cidade e que desejava almoçar no restaurante dele, indagando se tinham serviço de transporte para levar o cliente até lá. "Vamos mandar a limusine agora", eles disseram depois de informarmos em que hotel estávamos.
A belíssima limusine chegou, o motorista desceu e nos viu. "Sr. Gilbamar?", perguntou reverente. Sim, eu respondi. "Por favor, queira me acompanhar até a limusine, vou conduzir o senhor e sua esposa ao restaurante". Solenes, lá fomos nós. Ele abriu a porta para nós todo cortês e a fechou ao entrarmos. Olhei para minha esposa, depois para o interior do automóvel e deixei a mente vagar, através dos olhos, por cada detalhe, o coração batendo descompassado, a emoção a mil. Pomposa, luxuosa, confortável, imponente, majestosa, a limusine era tudo isso e muito, muito mais. O trajeto foi curto, somente dois quilômetros e meio, mas não há dúvida de que valeu. E muito!