AMOR INCONDICIONAL

Você já parou para se perguntar qual é o verdadeiro significado da palavra amor? Ou seja, já foi capaz de vivenciar uma cena real que pudesse evidenciar um gesto de amor incondicional, daqueles capazes de sensibilizar o mais frio dos homens? Penso que existem várias formas de amar, pois o mundo é feito de atos e de condutas e por isso as pessoas tomam decisões. São nessas decisões que somos capazes de mostrar o grau de intensidade do nosso amor.

Logo, quando observamos a mãe da Eloá dizer que perdoa o “monstro” que constrangeu e humilhou a sua filha em vida e, depois, não contente, ainda lhe retirou o bem mais precioso que possuía (a própria vida), ficamos até indignado com essa lucidez de dizer para o todo o Brasil que perdoa esse assassino. Aliás, nem se cogita a aflição que esse ser bestial impôs ao pais de Eloá, trancando-se no próprio apartamento da família, deixando os pais impotentes do lado fora, sabendo que lá dentro a filha que amavam estava à mercê de um bandido.

Mas, a pergunta é: Como foi que essa sofrida senhora tirou forças para (ao lado do caixão da filha), poder dizer ao Brasil que perdoava o assassino? Se fôssemos analisar esse gesto com a simples ilação do sofrimento que banhava seu coração, certamente diríamos que ela não estava em condições de se externar dessa forma, pois deveria haver muito ódio dentro de si. Mas, senti que existia dentro dela uma força maior – que não se explica pela ordem racional das coisas – pois, naquele momento quem falava não era uma mãe amorosa, mas alguém com o coração confortado pelo gesto humanitário de poder oferecer a outras pessoas os órgãos de sua filha. Exitem um amor mais profundo do que esse? Um mãe que abdica do seu sofrimento em nome de uma causa humana.

Fiquei ainda mais entusiasmado com a lucidez daquela mãe e a intensidade do seu amor, quando vi que ela olhava para o corpo da filha e dizia que ali estava um corpo de carne, mas que sua filha (em espírito) já tinha atingido outros patamares da integração, pois certamente já estaria à mercê dos desígnios da mão de Deus. São poucos as pessoas que conseguem dimensionar (na hora da dor) a importância do nascer e do morrer. Eu próprio não me julgo capaz de manter essa serenidade.

Em todo caso, parece que o tal de Lindembergue com o propósito real de servir as forças do mal, também serviu de instrumento para mostrar à humanidade que o mal pode se transformar – por interferência do amor - em gestos de integração e ajuda mútua, transformando uma tragédia de uma família, em felicidade para outras. Essa vitrine da existência está sendo vista por pessoas no mundo inteiro. Será que este exemplo de solidariedade (surgida da dor) não está servindo para que todos nós passemos a repensar no grande significado do amor, passando a entender que estamos aqui de passagem para servir às pessoas que estão ao nosso redor, para que possamos atingir um mundo melhor!

Sensibilizei-me com as entrevistas feitas com os parentes das pessoas que receberam os órgãos de Eloá. As pessoas diziam que tinham no coração uma sensação nova, um misto de felicidade com tristeza, porque ao mesmo tempo em que vinha uma luz no final do túnel para salvar um ente querido, deparavam com o triste fim de Eloá e não poderiam externar uma felicidade intensa, para não atingir o sofrimento daquela mãe e daquele pai que tinham a dor no coração.

É hora de entendermos de uma vez por todas que nós somos vertentes de amor. A tendência desse sentimento é muito mais intensa em nosso coração. Quem opta por ter o ódio, o rancor, a vingança, no seu íntimo é porque se perdeu da sua origem natural, pois as verdades que o mundo impõe à nossa volta nos permitem uma escolha: agimos com amor, ou agimos com egoísmo. Não consigo ver na ação de Lindembergue nenhuma noção de amor. O que ele tinha no coração era muito egoísmo, muito rancor, muito ódio e muito conceito típico do mundo dos machistas, de que as pessoas (principalmente as mulheres) estão à sua disposição para satisfazer suas próprias vontades. Assim ele pensava: - Se Eloá não me quer, seu destino é a morte! Esse era o seu desiderato desde que entrou naquele Apartamento. Na medida que os dias passaram e que não enxergou nela nenhuma iniciativa que lhe desse esperança, conclui sua bárbara empreitada.

Enfim, esse episódio serve para nos mostrar o quão os seres humanos são capazes de levar avante suas aspirações dementes. Mas os seus gestos, ao invés de incentivar o mal, traçam um caminho reverso. Este caso é típico dessa assertiva, tanto que quanto a Lindembergue só ficou a nossa irresignação e nosso desprezo, conquanto conseguimos assimilar dos fatos que a amizade é uma marca profunda no convívio entre as pessoas, tanto que Nayara abdicou da própria segurança para retornar ao apartamento porque sabia que sua amiga passava por momentos difíceis. Será que existe uma maior demonstração de amizade incondicional do que essa? Os outros gestos de humanidade que os fatos geraram já ficaram registrados alhures. Assim, mais um mal que se transforma num bem.

Destarte, mais uma vez, através da dor e da maldade alheia, estamos diante de uma realidade humana que nos leva a refletir. Os corações dos brasileiros pulsaram mais forte neste momento e milhares de pessoas rezam por essa família que, do anonimato, surgiu para espelhar os segredos da vida que por vezes ficam guardados no armário, mas que não podem permanecer por muito tempo, pois nossa passagem pela vida é pequenina, quando cotejada com a dimensão do Universo da alma.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 21/10/2008
Reeditado em 21/10/2008
Código do texto: T1239873