De Novo as Flores!

O que aconteceu ao ser humano que não é mais capaz de ouvir um não? Que fragilidade é essa que nos torna incapazes de lidar com nossas frustrações?

O que faz um garoto pensar que pode interromper os sonhos de não apenas uma garota, mas de uma família, de amigos, enfim, de tantas pessoas?

Como tantos que algum dia cometeram alguma espécie de desatino, penso que Lidemberg não tomou a decisão de aprisionar ou mesmo de acabar com a vida de Heloá, quando romperam o namoro. Desconfio que esta história tão trágica tenha começado há vinte e dois anos atrás.

E infelizmente, vejo uma história semelhante sendo escrita quase todos os dias. Vejo quando vou ao supermercado e observo uma criança chorando como se a vida não fosse mais fazer sentido se seus pais não comprarem aquela magnífica caixa de cereais pela qual ela sofre como se fosse o maior tesouro do universo!

Vejo, quando observo pessoas se endividando quando chega o final do ano para comprarem, mesmo sem terem condições, um playstation de última geração, pois não podem cogitar a possibilidade de ver seu filho que ainda não possui um, passar pela vida com tamanha decepção.

Vejo, quando uma jovem dissolve-se em lágrimas até finalmente convencer seu pai a deixá-la ir àquela festa que no fundo ele sabe que não fará bem algum a ela.

Estamos formando seres humanos débeis, fracos, incapazes de ouvir um não, incapazes de lidar com uma decepção. O imediatismo no qual vivemos, nos torna incapazes de enxergar um palmo a frente do nosso nariz, de analisarmos que apesar da ferida do momento, a vida continua, e continua linda, que a dor por mais que pareça eterna, um dia finalmente passa, que a semente que morre, na verdade não é o fim, mas é o que fará com que uma árvore nasça.

É saudável ouvir um ou muitos nãos quando somos crianças, é primordial para que nos tornemos seres humanos equilibrados, nem sempre termos aquilo que queremos, afinal, o sol não gira em torno da Terra, mas nem por isso ela deixa de ser bela.

É importante que nossas crianças saibam que quando não tem seus desejos atendidos, o mundo não acabou, que vai doer no momento, que elas podem chorar e que tem esse direito, mas que depois de algum tempo, seus olhos brilharão de novo.

Lidemberg não é um monstro, é apenas mais um que não aprendeu a lidar com as suas dores, e que por isso se acha no direito de exterminar “aquilo” (mesmo que seja um ser humano), que “ousou” lhe dizer um não.

Que essa tragédia nos desperte, que nos traga a consciência de que é preciso aprender a não nos deixar dominar por nossas dores, afinal de contas, elas são reais e por vezes parecem insuportáveis, mas que o fato de todos os anos existir o inverno, nos lembra que todos os anos a primavera também chega, e com ela de novo as flores.

Patrícia Ferreira
Enviado por Patrícia Ferreira em 20/10/2008
Reeditado em 21/10/2008
Código do texto: T1239305
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