MOTIVAÇÕES DE UM ESCRITOR

Dentre as muitas qualidades que me faltam para ser alguém melhor e acredito também nesse caso um grande escritor está à disciplina. Não sou disciplinado. Não me dedico com resignado afinco as tarefas a que me proponho realizar sobretudo escrever.

Admiro essa qualidade, especialmente em meus irmãos. Eles cada um a seu modo são capazes de passar horas e dias se dedicando a seus hobbys: mágicas para um e violão para o outro. Sei que não existe aprimoramento sem dedicação ou resultados sem sacrifícios, mas entre escrever ou não acabo muitas vezes sucumbindo e seguindo o conselho do poeta Drummond: “Se puder deixar de escrever, não escreva”.

Contrario ao que possa parecer não me faltam idéias. Dezenas de pensamentos e situações me cercam a espreita pedindo para virar por minhas mãos um conto ou crônica, mas idéias precisam ser desenvolvidas e também um texto é feito de 10% inspiração e 90% transpiração. Mesmo sendo um prazer (não o nego) escrever é sempre um desafio.

Para escrever preciso de motivação. Diante do papel o que me motiva é ter o que dizer ou acrescentar para o leitor. A premissa básica é esta: O que ainda não foi dito? Anseio lançar sobre o leitor um novo olhar sobre velhas situações, promover o debate sobre determinados assuntos e comportamentos, fazê-lo refletir e questionar, pois como já ouvi dizer “Um escritor oferece as perguntas não dá as respostas”. Escrevo sempre com esse intuito e não apenas para preencher uma folha em branco. Entendo a literatura como arte e como tal ela não deve causar indiferença. Essa é minha maneira de encarar o oficio. Frente à possibilidade de não atingir esse objetivo não escrevo e me rendo a total indisciplina do não fazer.

Não escrevo tanto quanto deveria e gostaria, mas leio obstinadamente, em especial, contos e crônicas por serem textos curtos já que não me animo, depois de um dia de trabalho, a encarar disciplinadamente longos romances.

Plagiando Rubem Braga ‘meu ideal seria escrever’ um texto não super-engraçado como ele desejou em sua crônica, mas um texto inteligente daqueles que quando alguém lê diz: “Nossa, como esse escritor é inteligente!” e que esse texto conquistasse a todos por sua simplicidade e eloqüência a ponto de seu autor ser disputado pelos editores. Enquanto não alcanço esse grau de genialidade escrevo ruminando conjecturas sobre o porquê não escrever.

Sei que esse caminho é árduo e a porta é estreita e que para chegar a esse nível (se chegar) terei que disciplinar-me na leitura e escrita. Mas escrever dessa forma seria um sonho; um sonho a que me permito, afinal também de imaginação e sonhos é feito o mundo das letras.