7 É A BINGOLÂNDIA... E O BRASIL

Não falo do futebol, nem do vôlei, nem do basquete, que, apesar de engenhocas importadas, já fazem parte da nossa vidinha nacional. De modo algum, gente, eu quero implicância com o surfe, com a fórmula Indy, ou o motocross, o turfe, o xadrez, enfim, todas essas modernidades do progresso d'além-mar.

Também não pretendo criticar a exuberância do pôquer, nem o elitismo dos cassinos, mesmo a teimosia rotineira do tradicional jogo do bicho. Aqui, com a permissão devida dos aficcionados, desejo apenas é tocar num assunto só: a bingomania. Ora, vivemos o clima da bingolândia, onde o afazer primordial do brasileiro, hoje, é fazer sua fezinha na cartela (eletrônica) do bingo.

Menino!... É bingo, por aí, que gente sem calculadora não conta. Ninguém duvide. Estamos no epicentro de uma desvairada bingolândia, sim. E com um pano de fundo bem exposto e representado pela jogatina nacional. Brasil, bingos e jogos mil.

Veja que o Baú da Felicidade já é da nossa cultura. Faz que tempo? Com ele, a matriz, veio a Telesena, ou Telessena, sei lá. (Melhor seria grafar tele-sena?). As loterias federal e estaduais, como o jogo do bicho, distam lá dos idos imemoriais das barbs de Maomé. Depois foi que surgiram outras e incontáveis arapucas objetivando alisar o bolso do povo. Loteria Esportiva, suas afins ou filiais: a Loto, a Sena, a Raspadinha, a Rapidinha e algo mais.

A cosa assume a progressão, só que não sei se geométrica ou aritmética. Daí, como festa de uma piracema, novas engrenagens para caçar níqueis: a Supersena, a Quina e a Mega-sena. Farra ou esperança do povo, ãaaah?

Com o Papa-tudo, então, a parada é global. Um arraso, qualidade total, midiaticamente um doce, como o neoliberalismo. Seu ícone bem que poderia ser a venta de um tucano: papa-tudo, ou seja, come sozinho. Outro arraso, ao sabor da globalização da economia, é o mundéu do disque 0900, que também prolifera neste sambódromo do futebol e do carnaval, agora reciclado pelas primícias da bingolândia. O "serviço" não existe apenas para os sussurros do tele-sexo.

Aí você ainda se jacta com piada quentona, horóscopo chinês, dias férteis para engravidar, vaticínios de toda sorte etc. O 0900, um sucesso, invadiu as urbes, agora chegou de malas e cuias aos canais de tevê. Você não assiste a um programa sossegado, isto porque logo lhe rebate às oiças o apelo de sereia do apresentador, ou apresentadora, claro.

E, de bate-pronto, ôxe, arre-água, tchê, uai, visse, meu rei porreta: " -Quem tem mais pelos nos supercílios, o homem ou a mulher? Se for o homem, ligue...; caso você ache que é a mulher, então, 0900... Este carrão importado, no final do programa, apenas por três reais, será todo seu. Mas ligue... 0900..."

Bingões, pelo centro da cidade (falo de Fortaleza), a cada cinquenta metros. Ocupam casarões desolados, onde safrejaram bancos nacionais (só os nacionais) que faliram, e magazines que tiveram sorte igual.

Ah, e o Totolec? Quanta criatividade acústica... Teria o aval do Estado (o estadual, mesmo) ou da CEF? Talvez do estado de insanidade. Na bingolândia, cassinos disfarçados, ao menos a gente toma chope, come "hot-dog", fuma e flerta com moças bonitas.

Fort., 19/10/2008

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 20/10/2008
Reeditado em 02/03/2010
Código do texto: T1237501
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