Orkut: o paradoxo freudiano
Numa noite de sexta-feira chuvosa, eu estava em casa e de repente o telefone tocou. Atendi e era uma grande amiga desesperada:
- Menina, você não sabe o que aconteceu!
Indignada, perguntei:
- Calma! O que foi?
- Aquele imbecil que me traiu casou com a amante!
- Quem te contou? – perguntei perplexa, pois sabia que a minha amiga há muito tempo não tinha contato com pessoas do relacionamento do seu ex.
- O Orkut! – disse ela.
- O Orkut?! – repeti com ares exclamativos.
A minha amiga, então, despejou toda a sua mágoa e indignação com o referido fato, sofrendo, assim, pela milionésima vez, e sem necessidade, pois ela é que tinha procurado notícias do falecido. E para quê? Apenas para sofrer, já que seu relacionamento acabara há dois anos.
Tentei consolá-la, mas foi em vão. Ela estava triste e inconformada com a situação, pois jamais imaginara que o seu “grande amor” pudesse ter se casado justamente com a mulher da traição, uma vez que para a minha amiga, aquela mulher representava apenas uma aventura na vida daquele homem infiel.
Ao desligar o telefone, fiquei pensando no poder da internet e, principalmente, do Orkut que faz as pessoas serem masoquistas, transformando-as em voyers e exibicionistas, abrindo um paradoxo, que se Freud estivesse vivo duvidaria de sua teoria.
São muitas histórias orkutadas no dia-a-dia, algumas tristes e outras engraçadas, como por exemplo, a história da esposa ciumenta que entrou no Orkut da ex-esposa de seu atual marido para constatar se realmente a moça estava feliz no seu novo relacionamento. Com a constatação da suposta felicidade da outra, pelo Orkut, ela se tranqüilizou e não perturbou mais o pobre marido com seus inesgotáveis ciúmes, resolvendo o problema de ambos.
Dessa forma, é incrível como a internet, ou melhor, o Orkut tem criado e resolvido os problemas das pessoas, que se expõem diariamente, sem perceberem que seus instintos mais primitivos são instigados no seu inconsciente, fazendo-as, assim, vítimas de si mesmas.
Uma teoria que nem Freud explica.