QUATRO REGISTROS

Segunda - feira – Era, para mim, o dia mais feio, cinza, um glamour; nada de importante para fazer – a não ser a rotina: recordar o domingo tão pleno. Agora é diferente! Como mudou! Segunda é o meu dia preferido. Pela manhã faço ginástica, ás quinze horas tenho a Oficina Literária que amo de paixão. Depois vou para a reunião do tricô. Na Oficina revejo amigas, o professor; aquele que puxa o fio da meada para o surgimento de todos os meus textos. E como faz isto bem!

A reunião do tricô é também uma festa! Somos quinze amigas que nos reunimos, uma vez por semana, para tricotar (fazer sapatos para velhos e doar aos asilos). Tricotamos com as agulhas e a fala. Cada uma conta um conto e depois vem aquele lanche. Fico de alma lavada sabendo que faço o mínimo para melhorar a vida de alguém e... o corpo, agradece o delicioso lanche. À noite vejo os jornais nacionais, às vezes vou ao Pantanal (novela, atualmente, transmitida pelo SBT) e encerro a segunda, dando uma passadinha na Hebe Camargo. Vou dormir feliz da vida!

Véspera de viagem – É sempre um imenso prazer arrumar malas para viajar. A expectativa de quebrar a rotina, conhecer lugares e pessoas diferentes - entrar num ônibus ou avião é tudo de bom que pode me acontecer - e, se pudesse, faria isto pelo menos quatro vezes ao ano. Adoro viajar! Ir para uma praia... deixar a brisa bisar sobre o meu corpo... O mar me rejuvenesce, faz bem ao meu corpo e alma.

O dia que ganhar na loteria – Muito raramente compro bilhete na loteria. Sempre imagino o trabalho, o transtorno que teria se fosse premiada. Jamais quis ser muito rica. Quando jovem nunca tive sonhos de namorar e casar com um homem rico, com um belo carro, como a maioria das amigas. Sempre sonhei em ter o necessário para viver bem. O vil metal, como diziam, nunca me seduziu. Sou mais São Francisco de Assis, Santo Inácio, Madre Tereza de Calcutá... que tudo abandonaram e ficaram felizes, fazendo as pessoas felizes. O que preciso mesmo, e muito, é trabalhar o meu desapego. Sou apegada a determinadas coisas: casa, objetos com os quais fui presenteada. Penso, seriamente, que não vale a pena esse apego. Preciso doar mais. Ganhar na loteria, ficar milionária, isto nunca foi meu sonho. Não sou nada visceral, orgânica, chama, fogo e flecha, algo colado a pele; sou mais nuvem, anjos; o corpo fica e o espírito viaja em busca do encantado.

Domingo doméstico – O meu domingo só foi doméstico quando solteira. Levantava mais tarde. Ia à missa das dez na Igreja Matriz com a melhor roupa e sapato. Depois fazia o footing na praça para ver, de longe, os flertes e encontrar as amigas. Batíamos papo até meio dia, hora marcada para estar em casa. Hora do ajantarado. Todos os domingos os mesmos pratos: maionese, lombo assado (Ah! Que delicia!) bem moreno, com abacaxi por cima, arroz de forno ou arroz de Braga, às vezes com camarão, tutu de feijão com lingüiça e ainda macarronada. Só variava a carne, trocando o lombo pelo frango. A sobremesa variava: arroz doce, espera marido, pudim de leite condensado e o famoso doce de mamão de pote que comíamos o ano inteiro e ninguém enfarava. Minha mãe, nos domingos, nos presenteava com seus dotes culinários. Depois do almoço, na minha casa, míngüem gostava de futebol. Tirávamos um cochilo. Eu preferia ler. À noite, voltava para a praça com as amigas para flertar e contar: hoje tenho três, cinco... flertes. Às oito horas o cine Rex tocava o “Jalousie”, música que indicava o início da sessão. Nunca deixei de ir ao cinema. Era viciada! Que saudades de: “O Vento Levou”, “Casablanca”, “O Morro dos Ventos Uivantes”, “Crepúsculo dos Deuses”, “Dançando na Chuva”, “Janela Indiscreta”... Os artistas me encantavam: Errol Flynn, Cary Grant, Charles Boyer, Tyrone Power, Spencer Tracy, Fred Astaire, Humphrey Bogart, Paul Henreid, Ingrid Bergman, Vivien Leigh, Merle Oberon, Rita Hayworth, Judy Garland, John Wayne e muitos outros. Depois de um bom filme de amor ou de dança, o sonho dos anjos.

Hoje meu domingo é bem diferente. Geralmente estou no sítio. Quando fico na cidade, almoço no Dragon Center, restaurante chinês. Adoro essa comida! Vou à missa e vejo televisão. No sítio passo as manhãs no jardim, plantando, aguando... quando vejo é hora do almoço. Almoço em casa ou com meu irmão ou com uma grande amiga que tem sítio perto. Seu marido é quem cozinha e a comida é uma delícia. À tarde é uma correria. Apanhar frutas, verduras, pois voltamos no domingo para BH. Depois de uma viagem estressante chegamos e a bendita da televisão nos espera: Faustão e o Fantástico. Chega! Já viajo por outros canais!

Maria Eneida
Enviado por Maria Eneida em 19/10/2008
Código do texto: T1236440
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