AGORA POSSO CONTAR

Ela era noiva. Ele também era noivo. Contudo, os noivos de ambos estavam ausentes. Eram primos e se conheciam desde crianças. Ela sempre teve um encantamento por ele. Era sério, falava pouco, mas quando se encontravam nunca faltava assunto e delicadezas. Nunca namoram. O pai era categórico. “Aproveite bastante as férias, mas nada de namorar primo. Não pode! E ponto final!”

Moravam em lugares diferentes, mas nas férias, toda família se reunia. E que família! Alegre e unida! Reuniam-se numa cidadezinha linda, a beira de uma lagoa toda enfeitada por coqueiros. Naquele ano estavam bastante cerimoniosos por causa das alianças, até que chegou o famoso baile da primavera. O Clube, bem no centro da cidade, era uma graça. Um salão enorme rodeado por grande varanda em arcos. E, lá estavam os noivos em meio a primos e amigos. Entre boas risadas, boleros, sambas e valsas começou o sonho. De repente tornaram-se dois namoradinhos; olhos nos olhos e... não se desgrudaram. Olharam no grande espelho do salão e ela, rindo, disse: - Se pudéssemos casar até que nossos filhos seriam bem bonitinhos. De mãos dadas caminharam até um banco, mais discreto, na varanda do clube. De repente ele abraçou-a com ímpeto e emoção, tentando roubar-lhe um beijo. Ela, assustadíssima, empurrou-o dizendo firme: - Não podemos! Escapulindo procurou logo os primos e o caminho de casa.

No dia seguinte, já refeita da brincadeira, recebeu, logo pela manhã, a visita de uma prima: - Olha, o Eduardo está preocupadíssimo e nervoso. Mandou-me pedir-lhe desculpas e, pelo amor de Deus, não comente com ninguém o que houve entre vocês dois. Afinal, disse ele, vocês são pessoas comprometidas!

Ah! Velhos e gostosos tempos! Quando a ameaça de um beijo, que nem chegou a ser dado, devia transformar-se em segredo... segredo... segredo... segredo... segredo... segredo... segredo... segredo.

Todavia, agora posso contar.

Maria Eneida
Enviado por Maria Eneida em 19/10/2008
Código do texto: T1236303
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