MEU PAI É ASSIM

Papai é uma pessoa de personalidade excepcional, altamente correto, honesto, integro e autêntico em todas as suas atitudes. Está sempre de muito bom humor e sua fé em Deus é inabalável. Se bem que, agora está com medo de morrer. Disse que não sabe o que vai “topar” do lado de lá e por isso prefere ficar por aqui mais uns “150” anos. Seu pai, meu avô, Firmino, queria chegar aos 700.

Inteligente e muito teimoso também. Quando cisma de fazer algo faz e faz muitíssimo bem feito. Só para se ter uma idéia, uma ocasião ele foi buscar um terno que havia mandado fazer pelo melhor alfaiate de Caruaru. Voltou chateado porque o terno não havia ficado como ele queria (sempre foi muito vaidoso e soube se cuidar).

Mamãe disse-lhe para parar de bobagem que nele nada ficava feio (papai é lindo até hoje). Bom, não havia jeito dele gostar do terno e ficou a reclamar dizendo que, se fosse fazer, faria melhor. Mamãe duvidou uma vez que, ele nunca havia pego numa tesoura, agulha e linha na vida.

Papai não teve dúvidas, imediatamente, comprou o tecido e fez um terno. A casa ficou de ponta cabeça. Mamãe só faltou enlouquecer e o proibiu de pegar numa tesoura para o resto da vida.

- Mas, ele fez!

É muito espirituoso e ainda hoje disputamos quem é o melhor naquilo que nos propomos fazer. Muito carinhoso. Quando nos abraça ficamos sem ar do aperto tão grande.

Já mamãe era “arisca”. Brincávamos muito com eles dizendo que se dependêssemos da participação dela para nascer, ainda estávamos por vir. Ela só fazia rir, ficava corada e dizia para pararmos com a brincadeira. Era carinhosa com todos os filhos e muito mimada por todos nós. Contudo, minha irmã caçula, Inára, a estragava de tanta manha.

Que saudades de você mamãe!

A casa ainda tem o seu perfume e para todos os lados que olhamos, lá está você!

E por falar em mamãe, Inára, pediu para ele orar por ela todas as noites. Ele, lhe disse que não, pois em lugar algum na Bíblia falava que a pessoa precisasse de oração depois de ter morrido.

- Eu posso...?!

Mandou foi ampliar várias fotografias dela e outras dos dois e deu para cada filho. Outras,espalhou pela casa.

A bisneta, Ylana, de 03 meses, que voltou para o Rio esta semana, ele a chama de “boboquinha”. Hoje perguntou a Yauanna, minha filha de 17 anos, se ela era uma “patricinha”. Yauanna ficou indignada e disse: ora vovô, não sou patricinha! Sou igual a você: vaidosa. Ele deu uma risada gostosa e disse ter sido só para provocar. Papai é terrível!

Outra dele: estávamos almoçando e eu contando para minhas irmãs sobre as peripécias que apronto no Orkut e ele só escutando. Então, Inára, me perguntou se eu tinha visto seu comentário no blogger, relativo à poesia “Contrição” (ela curte muito meu blogger).

Papai olhou para mim e falou: eu não suporto poesia, prefiro minhas crônicas.

– Ele escreve diariamente, e, fora as crônicas já publicadas nos jornais de Caruaru e Diário de Pernambuco, contabiliza mais de 10.000 trabalhos. Todos, escritos em cadernos enormes de 400 folhas. Em cada folha duas crônicas, uma na frente e outra no verso. Fiz tudo para ele usar o computador mas, ele diz que o “calepino” é melhor.

Respondi-lhe na horinha e bem na cara dele: escuta aqui Alírio, sabe por que você não gosta de poesia? – Porque sou melhor que você. Ele engasgou de tanto rir.

Fez várias canções, belíssimas, para mamãe. Abaixo, trechinhos de algumas que gosto muito:

Por ocasião de uma briga boba:

...Sofrer assim não pode ser

Viver assim melhor morrer

O meu pobre coração

Já não quer desilusão

Se já sofri

Se já chorei

Foi por você meu grande amor

O meu viver é só enfim

Querer você só para mim

Sim, sim, sim

Não, não, não

Bate assim o meu coração

Sim, sim, sim

Não, não, não

Pra você esta minha canção

Por ocasião de uma viagem de mamãe, sem ele:

...Esta é a canção que te fiz

Tudo foi emoção que senti

Quando vi você partir

E logo sumir me deixando só

Quero você aqui

Quero você assim

Quero você pra mim...

E um dia, sua sobrinha, Yolanda, lhe perguntou como ele compunha. Ele pegou o violão e lhe disse é assim:

Vou dizer pra você

Toda minha paixão

Vou dizer pra você

Toda minha emoção

Se você entender

Será muito pra mim

O destino que fez

Eu amar outra vez

Você me quis

Aí deu um nó na rima, ele apelou:

Vai ser muito bacana

Você só para mim

E depois

E depois

Aí empancou...

E depois hum rum rum

E depois hum rum rum..

Ele conta que, uma ocasião, quando ainda noivo de mamãe, discutiram e terminaram. Creio que ciúmes (mamãe era linda também) e ele morria de ciúmes dela.

Terminado o noivado, mamãe foi passar uns dias no engenho da família. Quando soube enlouqueceu. Foi imediatamente a procura dela. Chegando na cidade de Bonito,onde ficava o tal engenho, pegou um cavalo, na fazendo de seu padrinho, João Caramuru, e, galopou até onde mamãe estava.

No final da tarde e já feita as pazes, ele montou no cavalo e voltou para Bonito.

- Só pensava em mamãe...

De repente, já anoitecia, percebeu que galopava, galopava léguas e nunca chegava.

- Havia se perdido. - Entrou em pânico...

Foi quando encontrou um camponês e lhe perguntou o caminho de volta para Bonito. O camponês lhe respondeu: você está sobre ele. Solte as rédeas do cavalo que ele lhe levará.

Assim foi seu retorno: aos cuidados do cavalo e na cabeça: mamãe.

Ô viagem boa, num foi meu pai?!

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Crônica publicada no meu blogger no começo deste ano. Senti vontade de trazê-la para cá. Espero que tenham gostado.

www.ysoldacabral.blogspot.com/