ELOÁ.... POR QUE NÃO QUISESTE ME NAMORAR?

 

 

Eloá, adolescente de quinze anos, terminou o relacionamento com o namorado de vinte e dois. Ele não gostou, não aceitou o término, a seqüestrou e, por fim, a matou. Segundo a mídia, o namorado, Lindenberg, era “arrogante, ciumento e possessivo”.

 

Por que será que determinadas pessoas, não aceitam um “não”?  Por que essas pessoas não têm nenhuma tolerância à frustração? O que está por trás desse perfil psicológico?

 

Sim, não é fácil para ninguém lidar com a frustração da não realização de seus desejos. Na maior parte das vezes, a gente “engole seco”, sofre, digere e internaliza o sentido daquele “não”. E por incrível que possa parecer, esta pílula amarga nos faz crescer e amadurecer.

 

O ser humano é um animal totalmente primitivo e instintivo logo que nasce, e este primitivismo perdurará por toda uma vida, se desde cedo ele não tiver quem lhe ensine a conviver com as frustrações. E quem deve lhe dizer os primeiros  “nãos” e lhe ensinar os limites?  Os pais (ou quem cuide dele), claro, através do afeto e da EDUCAÇÃO.

 

Mais tarde será a escola a responsável pela continuação da educação, mas a básica tem que vir do berço, do seio da família. Internalizando o NÃO, o sujeito humano, torna-se apto a conviver na sociedade e em suas relações amorosas, reconhecendo-se como indivíduo singular e sabendo-se diferente dos outros. Aprenderá a noção de respeito, de alteridade e de limites.  Vai aprender que seu espaço vai até onde começa o espaço do outro.

 

Mas vai aprender que o amor se conquista com amor, carinho e respeito pelo outro. O amor não pode ser roubado, chantageado ou conseguido pela força.  O amor se adquire amando a si mesmo em primeiro lugar. Ou seja, amar a si mesmo não é fazer como Narciso fez, viver diante do espelho e ignorar o resto da humanidade. Amar a si mesmo é adquirir estrutura emocional forte e adequada para não esperar que a felicidade seja dada pelos outros. È saber-se capaz de ir buscar sua própria felicidade usando todos os recursos disponíveis que ele possui: criatividade, capacidade de realização de seus sonhos, desenvolver suas próprias habilidades e inteligência, ter autoconfiança e auto-respeito. Sendo feliz, a gente quer ver o outro feliz. Se amando, a gente aprende a amar o outro. Se auto-respeitando, aprendemos a respeitar os outros, etc

 

Ser “arrogante, possessivo e ciumento” é um risco que todos nós corremos. A arrogância é a máscara do sentimento de inferioridade e prima da onipotência – desejo ou ilusão de que “se pode tudo”.  A possessividade é o medo de não ser suficientemente amado e querido pelo que se é. É o sentimento de vazio que precisa constantemente ser preenchido pelo outro que admiramos. É querer fazer do outro um escravo para a nossa ôca existência. E os ciúmes exagerados são a carapuça para cobrir nosso sentimento de rejeição, de menos valia e de desejo de controle do outro para que ele não faça aquilo que inconscientemente gostaríamos de fazer, ou seja, trair.

 

Porém, quando adquirimos uma boa estrutura emocional, que é construída com afeto, e também com limites, através da educação, temos uma grande chance de nos constituirmos como seres inteiros, sociais, afetivos e fraternos, pois nos tornamos lúcidos de nossas potencialidades  e conscientes do direito e deveres nossos e dos outros.

 

Eloá, não quis mais namorar o Lindemberg, talvez até pelas características da personalidade dele que, certamente, a faziam sofrer e a oprimiam.  Mas Lindemberg não entendeu isto e quis usar a força  e a violência para trazê-la de volta.  Eloá não se rendeu e Lindemberg a matou!

A mídia diz: “Foi um crime passional! Ele a amava e por isso a matou!”. E eu questiono essa versão. Não foi um crime de paixão, foi um crime  de “intolerância a um não”.  Ele a amava?  Não, ele a via com olhos de posse, de ciúmes e de arrogância.  Isso não é amor, é a necessidade de se apossar do outro como objeto, para dar significado a sua vazia existência. Como ela não quis, ele tornou-se um bicho feroz e a eliminou!

 

 

 





PS: Esta avaliação é baseada apenas nas notícias lidas nos jornais.  Não pretendi fazer uma avaliação psicológica profunda do Lindemberg, pois não conheço-o mais de perto e nem a história de sua vida.