Palavras

Vim de longe com um único intuito: tomar o ouvinte que escreve nossas emoções. A verdade é que nunca compreendi isso ao certo: Gates, sentado em sua cadeira, ditava; o outro, quieto, em um canto sombrio, digitava. Por quê? As palavras, para mim, são a verdadeira tonalidade quando minhas mãos tocam a caneta, que toca o papel. Deveras, não compreendo meu amigo, e nem concordo com sua forma de se expressar. Bem verdade é que suas metáforas levam aonde o leitor quer chegar (e não aonde ele quer que o leitor chegue, como ele sempre coloca, por sinal). Uma afirmação peremptória sobre esse tão querido ser misterioso seria um erro, por isso não me disponho a fazê-la. Não é pelo Gates que tomei o seu ouvinte; é, pois, por mim mesmo; quero me transladar para esse momento solene onde falo e o outro escreve (quem garante que não muda ele um termo pelo outro que achar mais belo ou mais real? Estamos constantemente fazendo isso com o que ouvimos dos outros. Mas dirão: “não é a mesma coisa, quando reconto o que houve somente conto, e não escrevo. A questão é que o conto é a escrita, senhores, não se esqueçam disso).

Prefiro, antes que me confundam, dizer que não gosto das metáforas. Na verdade não é que não goste delas: não gosto de criá-las. Pensaram todos que talvez eu não tenha capacidade para isso. É bem verdade. Além da minha ausência de talento, não gosto; não sou como o Gates. Mas garanto, àqueles que seguirem minha linha, que algum sentido verão nela, pois eu realmente sinto; sinto com uma intensidade incontestável (e aqui discordo de meu amigo, que diz: “nem tudo cabe nas linhas”; prefiro: nada cabe nas linhas). Há aqui somente um pretexto qualquer para puxar assunto. Será? O que procura aquele que redige? Eu tenho minha opinião: ir além das palavras. As palavras, como sabemos nós, todos as têm, mas nem todos sabem amá-las. E é pelo amor, sim, pelo amor incondicional às palavras, que nos vemos a nós; que brincamos de escrever (porque isso nunca passou de uma brincadeira). Vive uma necessidade extrema de deixar de pensar nas palavras e criá-las. Criar, esse ato belo, é completo quando no papel elas se fixam, em busca de um sentido. Explico: escrevo para entender melhor o sentido do que vivi, é isso. Quando as coloco, magníficas - todas alinhadas em perfeita harmonia, como uma sinfonia clássica - busco somente entende-las: amor. É por amar demais que nunca é completamente suficiente se viver um momento; é preciso escrevê-lo; é preciso que se leia ele a cada dia, a cada momento, porque lá – sempre - vai ter algo que antes não foi compreendido; que antes não foi visto; que antes não valeu a lágrima que hoje vale.

Lembro que chorei quando dei de encontro com a morte. Não no exato momento que ela veio – nessa época eu era demasiado novo pra entender sua simplicidade (pensava eu que ela era complexa). Não me comovi; não me despedacei. A verdade é que sei hoje que aquilo não tinha um significado na época, porque eu não compreendia. Hoje, ao ler aquele passado tenebroso, choro. Choro porque sei de motivos que agora me preenchem, e machucam, mas não me conformo. O que eu quero dizer, por fim – garantindo o que disse acima – é: escrevam. Escrevam suas lembranças como se a nitidez do visto fosse como se acontecesse hoje. Escrevam, porque amanhã isso mudará (sim, apesar do ocorrido ser o mesmo, garanto: mudará). É somente atrás das palavras, usando as palavras, que se pode entender o real significado das palavras. Palavras, vocês são mais que meras cogitações desse ser pensante: são a vida.

ps: Desculpe qualquer erro: a falta de tempo não me permitiu revisar o texto. Obrigado.