Paz Interior

Há momento em que despertamos e o dia continua anoitecido em nosso olhar.

Muito se fala sobre os “vampiros de energia”. Pessoas que parecem nos sugar, roubando-nos o equilíbrio e o bem–estar. Esquecemos, no entanto, que na maior parte do tempo, somos os maiores sabotadores e saqueadores da nossa paz interior. Muito de nós, quando algo em nossas vidas não vai bem, tendemos a transformar em areia movediça o nosso entorno, arrastando tudo o mais que nos poderia ajudar a restaurar o nosso centro de equilíbrio.

Em momentos assim, as emoções, como livros empilhados ao acaso, caem das prateleiras da nossa alma. Nesses instantes, permitimos que os dias sejam de vendavais e os caminhos apenas tortuosos, onde os passos são soterrados na solidão e no desalento, interrompendo e pausando o nosso avançar. Nem nos damos conta dos hiatos e fossos que vamos erigindo a nossa volta. Em momentos como estes, nem nos apercebemos das pontes que fazemos desmoronar, porque vendamos o olhar que poderia conduzir os nossos passos até a outra margem...

Lya Luft em uma de suas crônicas, diz que “a solidão é um campo demasiado vasto para ser atravessado a sós”. Quando nos sabotamos do olhar do outro e imergimos em nosso pequeno mundo, vamos calando a voz dos nossos afetos e desaprendendo a linguagem do compartilhar.

Mirarmo-nos em nossos espelhos, olhando-nos em todos os nossos ângulos é também um momento importante e saudável para vermos e sentirmos os matizes com que pintamos a paisagem da vida. O que não podemos perder de vista é a profundidade dos nossos mergulhos. Muitas vezes, eles são muito maiores que o comprimento da corda que a vida nos oferece para emergir...

Fernanda Guimarães