SONHO DE INFÂNCIA

SONHO DE INFÂNCIA

Eduardo Mendonça

(UMA HISTÓRIA REAL)

COMO DE COSTUME,

ACORDEI DE MADRUGADA

E SAÍ, PARA ACOMPANHAR

MEU VELHO AO CURRAL...

O SOL APARECENDO,

JÁ CLAREANDO MEU ROSTO

E VI QUE MEUS AMIGOS PÁSSAROS

JÁ ESTAVAM ACORDADOS HA MUITO TEMPO.

MEUS CARDEAIS DE TODAS AS MANHÃS,

MINHAS POMBINHAS DAS ESTRADAS,

ATÉ OS CALANGOS JÁ ESTAVAM DE PÉ.

E SEGUI MEU CAMINHO ATÉ O CURRAL.

O CAMINHO NÃO ERA TÃO LONGO,

MAS O SUFICIENTE PARA APRECIAR

O VERDE DAQUELA MATA EM VOLTA.

SENTI O PERFUME DAS JUREMAS,

ATÉ DAS FLORES DO QUIABENTO!

CHEGUEI À MINHA ROÇA QUERIDA,

NA ENTRADA, CLARO, O VELHO CURRAL.

“MIRO FÔEM” JÁ ESPERAVA-NOS NA PORTEIRA

E SEU “ZUQUINHA” JÁ TINHA PASSADO

PARA O CURRAL DELE, UM POUCO MAIS ACIMA.

MAIS TARDE, PASSOU “GEROLO”.

DEPOIS “MODESTO” , “SR. ZUZA”, “PAIZIM PIMENTEL”,

TODOS COM SEUS PEÕES EM VOLTA,

TODOS INDO FAZER A MESMA COISA:

TIRAR O LEITE SAGRADO DE TODOS OS DIAS,

NAS MADRUGADAS QUERIDAS DA NOSSA TERRA.

LÁ DO ALTO DO CURRAL, EU PODIA VER

O MEU LINDO AÇUDE, O LAGO AZUL LÁ LONGE.

QUE MARAVILHA VER AS GARÇAS BRANCAS

SOBREVOANDO O LAGO AZUL DA MINHA TERRA!

A SERRA VERDINHA EM VOLTA,

OS PATURIS SOBREVOANDO UM POUCO MAIS ACIMA,

ENFIM, ERA A NATUREZA ACORDANDO

PARA MAIS UM DIA DE ENCANTO E BELEZA.

DE REPENTE, MEU VELHO TROPEÇA NUM BALDE,

A METADE DO LEITE CAIU POR TERRA.

“MIRO FÔEM”, NOSSO AJUDANTE, APENAS SORRIR.

E COMPLETA: “COISAS DE VELHO MESMO”!

MEU VELHO TAMBÉM SORRIR E DIZ:

“MINHAS FORÇAS JÁ SÃO TÃO POUCAS

E AINDA ACONTECE UMA COISA DESSA”!

MAS TUDO BEM. A VIDA SEGUE...

MEU QUERIDO “EZEQUIEL!”

MEU VELHO DE CABELOS BRANCOS,

FACE ENVELHECIDA, RUGAS PELO ROSTO,

E OS BRAÇOS RISCADOS DE SANGUE,

MALTRATADO PELOS GALHOS DA VIDA,

PELA LABUTA NOS CAMPOS DO MUNDO...

ERA UM SÁBIO, UM PROFESSOR.

EU POR LI, SEM UTILIDADE, APENAS OLHANDO,

APENAS OBSERVANDO AQUELA LABUTA DIÁRIA

DESSES VELHOS GRANDIOSOS QUE NUNCA SE CANSAM.

E AINDA BRINCAVAM COMIGO, AINDA SORRIAM

DAS MINHAS TRAVESSURAS NOS PAUS DAS PORTEIRAS.

DE REPENTE, VEM UM BANDO DE AZULÃO

E FICA HOSPEDADO EM VOLTA DO CURRAL,

NO FRONDOSO JUAZEIRO EM FRENTE À PORTEIRA.

DO OUTRO LADO, OS SOFRÊS, OS PERIQUITOS,

ATE OS SABIÁS, TÃO RAROS ENTRE NÓS,

AS POMBINHAS, AS JURITIS, TODOS,

POR ALI, ESPERANDO A OPORTUNIDADE PRA BEBER,

E APROVEITAR OS RESTOS DO MILHO NOS COCHOS.

SÃO RESTOS DE COMIDA QUE FICAM DENTRO DO CURRAL,

QUE O GADO, JÁ SACIADO, NEM LIGA MAIS.

NOSSA! NUNCA VI TANTO AZULÃO NA MINHA VIDA,

QUE BANDO GRANDE, “AZULOU” MEU PÉ DE JUÁ,

FALAVA INOCENTEMENTE ENQUANTO

DEGUSTAVA UMA ESPIGA DE MILHO ASSADA,

PREPARADA POR MINHA “AVÓ ANA”,

LÁ NO RANCHO, NO MEIO DA ROÇA.

QUE VIDA BOA, COMO É BOM SER CRIANÇA,

DE REPENTE, BATEM NA PORTA DE CASA:

“EDUARDO” ESTA AÍ? QUEREMOS FALAR COM ELE””!

CLARO, NESTE INSTANTE EU ACORDEI.

POXA, QUE SONHO BOM, QUE SONHO BONITO!

LEVANTEI-ME MEIO SONOLENTO,

COM UMA CARGA DE SAUDADE PESADA SOBRE MIM.

ATENDI AO CHAMADO E VOLTEI PRA COZINHA.

AO SENTAR-ME NA MESA PARA TOMAR CAFÉ,

BAIXEI A CABEÇA E PASSEI A LEMBRAR DO SONHO

E A REFLETI SOBRE TUDO QUE HAVIA SONHADO.

COMO ERA GOSTOSO O VIVER DE ANTIGAMENTE!

COMO TUDO ERA SIMPLES E NATURAL!

TUDO ERA BELO E ENCANTADOR!

EU ERA FELIZ E NÃO PERCEBIA TAMANHA FELICIDADE.

DE REPENTE, LIGO A TV E VEJO A NOTÍCIA NO BOM DIA BRASIL:

"MILHARES DE ÁRVORES SÃO DERRUBADAS CLANDESTINAMENTE

EM PERNAMBUCO E TAMBÉM: A POLÍCIA FEDERAL

PRENDEU UMA QUADRILHA ACUSADA DE TRAFICO DE ANIMAIS,

QUE LEVOU À MORTE CENTENAS DE PÁSSAROS SILVESTRES”.

COINCIDENTEMENTE TUDO TINHA A VER

COM O QUE EU HAVIA SONHADO HÁ POUCO.

SENTIR UM MISTO DE DECEPÇÃO E DE REVOLTA.

COMO NÓS, SERES HUMANOS SOMOS PEQUENOS E INOCENTES!

NÓS SOMOS OS PRINCIPAIS CAUSADORES DE INÚMERAS

AGRESSÕES AO MEIO AMBIENTE.

E, PENSANDO COMO ESTÁ O MUNDO HOJE,

FICO IMAGINANDO, O QUE SERÁ DA NOSSA RAÇA

NOS PRÓXIMOS ANOS?

COMO VIVERÁ A GERAÇÃO

DOS NOSSOS BISNETOS E TATARANETOS?

O DESRESPEITO Á FAUNA E A FLORA

ESTÁ EM TODOS OS RECANTOS DO MUNDO,

PRINCIPALMENTE ENTRE OS POVOS MAIS RICOS.

ESTAMOS À BEIRA DE UMA CATÁSTROFE

DE PROPORÇÕES INIMAGINÁVEIS.

ESTAMOS TRILHANDO UM CAMINHO SEM VOLTA,

MAS, DEUS, O ARQUITETO DO UNIVERSO,

HÁ DE NOS GUIAR E NOS MOSTRAR UM CAMINHO NOVO.

ENQUANTO ISSO VOU PROCURAR ME LIGAR NAS ILUSÕES,

APELANDO PARA QUE NOVOS SONHOS

DA MINHA INFÂNCIA SEJAM PLANTADOS EM MEU CÉREBRO.

QUEM SABE, SÓ ASSIM, TEREI, EM MOMENTOS ALTERNADOS,

A ALEGRIA DE VIVER E DE CURTIR OS MOMENTOS

MARAVILHOSOS QUE A NATUREZA NOS PROPORCIONA.

SALVEM NOSSO PLANETA. A NATUREZA PEDE SOCORRO.

Eduardo Mendonça
Enviado por Eduardo Mendonça em 17/10/2008
Reeditado em 19/10/2008
Código do texto: T1232836