Um autor para se apaixonar
O primeiro romance que li foi o Garimpeiro, de Bernardo Guimarães. Eu o encontrei em um armário que havia em nosso único banheiro, junto aos sapatos. Minha mãe o havia deixado lá. Eu tinha oito anos e acho que nunca tive tanta dor de barriga e tomei tanto banho como nos dias em que o estava lendo. Jamais quis relê-lo com medo de me decepcionar. Mas o encantamento foi tanto que a partir daí eu não parei mais de ler. E foi bem na infância que eu comecei a minha paixão pela literatura policial.
A paixão continua. Nos velhos tempos eu lia tudo o que caía em minhas mãos. Atualmente sou mais seletiva porque o tempo urge e o leão ruge. E quando encontro um autor que vale a pena tenho que anunciar aos quatro ventos e comprar todos os livros dele. Foi o que aconteceu agora, com Dennis Lehane. Que além de tudo é lindinho.
Tomei conhecimento da existência de Lehane quando assisti ao maravilhoso Sobre meninos e lobos filme dirigido por Clint Eastwood e interpretado por um trio da pesada (Kevin Bacon, Sean Penn e Tim Robbins) secundado por outros atores e atrizes da linha de frente de Hollywood. Uma história densa e triste baseada no livro de Dennis Lehane (Mystic River) e que também co-assinou o roteiro do filme.
É indubitável entre os críticos que Lehane revigorou a literatura policial. Sobre meninos e lobos é seu sétimo romance e certamente uma leitura indispensável. Considerado um mestre do noir moderno Lehane comprova com sua obra que a literatura policial não é uma literatura menor como alguns intelectuais de araque gostariam de fazer crer. Mais duas de suas obras foram filmadas: Gone By Gone (Medo da Verdade) e Shutter Island (que será lançado ano que vem.)
Pelos meus cálculos Lehane escreveu e publicou oito livros, todos editados no Brasil: Sobre meninos e lobos, Um drink antes da guerra, Apela às trevas, Sagrado, Medo da Verdade, Paciente 67, A Dança da Chuva e o livro de contos Coronado.
O cenário dos livros de Lehane é um subúrbio pobre de Boston e só em dois de seus romances os protagonistas não são os detetives amigos de infância, Patrick Kenzie e Angela Gennaro. Que além de amigos se amam de paixão. O ambiente retratado pelo escritor é opressivo, seus personagens, desencantados. Mas ele escreve tão bem que a gente supera isso tudo e quer mais. Dois de seus maiores fãs são os papas das letras de mistério norte-americanos: Stephen King e Elmore Leonard.
Estou lendo Paciente 67 e acabei de ler A Dança da Chuva. E é sobre A Dança da Chuva que vou escrever um pouquinho para justificar este texto. Que nem vou chamar de resenha, mas de crônica.
Patrick Kenzie é o detetive da história. Ele faz um servicinho para uma jovem de boa aparência,tipo família, resolve o problema dela e continua a sua vida. Algum tempo depois a jovem tenta contatá-lo outra vez, mas ele está saindo de férias e envolvido com uma mulher apressada: o toque de sua buzina na rua faz com que ele não retorne o telefonema e acaba se esquecendo dela. Até que um dia ele lê no jornal que ela se suicidou de uma forma grotesca. O sentimento de culpa, o absurdo do suicídio o leva buscar a verdade. E aí ele vai se enrolando, enrolando, até que desenrola. A figura do mal, o mal em estado puro permeia toda a trama. Mas também a lealdade, a amizade e o amor verdadeiro. A culpa e a redenção. Só para concluir: comecei a ler devagarinho. Um capítulo antes de dormir, outro antes de levantar, um relax na hora do almoço. Mas, de repente, não houve como parar. Fui lendo, fui lendo e quando acabei o dia já começava e eu ainda não havia dormido. Ainda bem que estou de férias.