A CASA DA VOVÓ DORA

A CASA DA VOVÓ DORA

Não sei se aconteceu com vocês, mas depois que chequei ao 40 anos, ando meio nostalgica dos momentos e das pessoas que me fizeram feliz na infância. Acredito que seja porque começamos a nos dar conta de que não somos imortais. Aí os questionamentos pipocam por todos os lados e para acalmar esse turbilhão, nada melhor do que recordar.

A casa da vovó Dora é o meu bálsamo. Uma típica casa do interior: Muro baixo, batente na entrada convidando ao ócio sem culpa. Uma pequena varanda onde quatro cadeiras de balanço dão as boas vindas aos que chegam e que podem sempre entrar, pois a porta fica aberta. Logo que, passamos pela estreita porta, que só é fechada a noite, com um ferrolho e uma tranca (um pedaço de madeira que é colocado a travessado nas portas e janelas, sustentado por duas hastes de ferro) adentramos numa pequenina “sala de vizitas”, onde dois sofás, modelo anos 60, herdados da minha tia que casou nessa década e que vó Dora mandou “plastificar”, resistem bravos ao passar do tempo e dos netos e bisnetos. Esses “charmosos guerreiros” ladeiam uma antiga mesinha de centro e possuem como companheiros mais duas cadeiras de balanço. Acho que as pessoas do interior não querem perder a maravilhosa sensação do “acalentar”.

No cômodo seguinte temos a sala de jantar. Uma mesa retangular esta sempre envolta por uma toalha bordada ou um belo caminho de mesa feitos, caprichosamente em ponto de cruz, por vó Dora. Ao lado esquerdo, quardando os pratos e travessas, temos o velho “bifê”. Tantos anos se passaram e ele com suas portas de madeira cor de ébano, continua resistindo em ceder aos modernos armários. Num canto, sobre uma pedra, existia um possante rádio, que nos anos 50, foi o auge da tecnologia e que na minha infância, enchia de música o ar. Nessa sala, também ficava uma robusta geladeira azul bebê, uma pequena pia com espelho e uma “televisão de móvel”. Nos lados, direito e esquerdo, temos duas “basculantes” ( janelas de vidro partidas que se movimentam na horizontal) que deixam olhos curiosos espreitarem sem serem notados.

A esquerda temos uma pedra que faz as vezes de balcão dividindo a sala de uma suposta cozinha, que nunca foi utilizada com esse fim, mas que até hoje abriga a “mágica máquina de costura” da vovó Dora e sua “misteriosa dispensa”, cuja chave andava sempre no seu bolso e na minha infância servia de “esconderijo” na brincadeira de esconde-esconde.

Um comprido corredor ladeado por um banheiro e dois quartos, vai desembocar na parte especial da minha meninice: A cozinha da vó Dora . Hoje passados mais de 30 anos, ainda posso sentir o cheiro dos bolos, coxinhas, pastéis, canudinhos, tijolinhos de leite, doces e todas guloseimas que o prestativo fogão a lenha nos presentiava.

Agora chegamos no espaço onde a imaginação tornava-se real: O quintal. Quintal, quintal meu, lugar mágico do meu Eu. Quando transpúnhamos a porta da cozinha, parecia que abríamos a do céu. Descendo os batentes, hoje substituídos pela rampa da idade, corríamos para liberdade. Subir nos pés de siriguela, sentindo o cheiro dos grãos de café sendo moídos por vó Dora. Tomar banho de balde dágua tirado do cacimbão; vizitar os “chiqueiros dos porcos”, correr atrás dos bacurrinhos; pegar uma cesta de palha cheia dos quitutes da vovó, pular o muro e ganhar o “mundo” para fazer pequinique, andar de “burrinho” e correr pelos matos, que para mim eram florestas encantadas.

Graças, muitas graças vovó Doralice, por essa infância tão rica em cheiros, sabores e cores. Lembranças que hoje na maturidade, me arrebatam do agito estressante do dia-a-dia, para momentos de pura paz e prazer.

IAKISSODARA CAPIBARIBE.

IAKISSODARA CAPIBARIBE
Enviado por IAKISSODARA CAPIBARIBE em 16/10/2008
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