NA SALIVA MISTURADA... ! ( a crônica )

Na saliva misturada...! ( a crônica )

poet ha, Abilio Machado. 151008.

Reencontro comigo mesmo dentro de mim nas minhas entranhas...

Com as mais insanas palavras insurgidas tenho escrito os dialetos dos esquecidos, dos aloprados, vadios, ou até poderíamos chamar de sonhadores...

Palavras que saem como vômito a ser colocado para fora, antes que me absorva em si, meu todo a mim mesmo...

Jorra a sede do advento da criação e digo que se façam o sexo divino, tão assexuado quanto os anjos do paraíso...

Opa! Tira a mão boba daí que como anjo não admito, sou espada, viscê?

E essa dor que vem assim do nada!

A dor vem e se instala.

A dor que se faz presente no abate, e qual agulha ataca-nos e nos tange, na tortura quase que perpétua das dores da alma, onde as pomadas não mais alcançam e tampouco sanam a ferida aberta e cheia de... Animais rastejantes como larvas, que me lavam às escadas da igreja que tem um anjo sobre seu telhado com a clarineta aos lábios finos e sensuais.

Cada segundo que julgamos às vezes não ter cura e o destino nos deu e força a ficar-nos ali à espera do fio afiado do vórtice dos anos, nos impôs caminhos com regras que não participamos na formulação, mas somos obrigados a acatar e o tiro é ouvido, um estalo que alcança, é pequenina, é bem menor que a menina dos olhos, e até

já não é dor mais, pois da dor já não é mais quando dividida por dois.

Teus cabelos molhados segurei, depois que molhou minha pele, bateu em meus olhos, olhei dentro de ti e murmurei meu vomito, sua expressão era de que nada entendia, nem eu, só sentia um estranho prazer em tomar-te desta maneira.

Minhas roupas foram arrancadas, desabotoadas, sacadas, jogadas ao canto e minha força subiu e sua mão pousou suavemente como quem apanhasse uma borboleta no jardim... Meu totem latejava e você gemia.

O lençol... Arremetia-me às túnicas dos rituais sagrados, feitos em locais secretos, onde os ventres pulavam frenéticos em respirações guturais... Velas acendidas pelos corredores, sua boca e meu nome, uma névoa tomava os salões e teu ventre caiu sobre mim e eu me senti todo em você, como colocados em nuvem viajante em eras acompanhando a dança. O ritmo da noite.

Um grito, seus gritos me assustaram, cheguei a me afogar em tua saliva viscosa e cheia de mim, pois me abocanhara o falo com vontade e intumescido um pouco de minha semente da criação já estava em sua língua, numa mistura de energia e saliva doce que você é.

Começava a me entregar aos teus gestos de encontrar meus esconderijos, seus dedos, sua língua, teu sexo me procurava, eu em dúvida, eu ali, deixando-me levar pelas suas mãos, por seus gestos... Meu machismo indo embora e eu sendo teu, meu lado oposto me desejando mais.

Meu coração corria uma aceleração fugidia, saltava-me à boca, vociferava você coisas que eu não entendia, sentia seus ataques ao meu corpo ora me deliciando e ora me devorando, em cima e embaixo, na frente e atrás, eu suportava gemendo, minha rigidez doía, até que me mordeu...

Agarrei de novo teus cabelos molhados, dei-te com meus olhos maus, uma cara de pouco amigo, te joguei ao lado, virei-te de bruços, mãos coladas ao chão do colchão, entrei em você, pela porta dos fundos retirando de sua garganta uma canção, querendo mais...

Não! De não pára. Acompanha-me. Não pode parar...

Jogados ao chão rolamos pelo jardim com belas flores e muitos espinhos...

E molhada a grama, de teus segredos, implorava-me com beijos para me deixar mais uma vez, entrar em ti, jorrar esta vida por dentro e ainda ofegantes enxergar as estrelas dispersas naquele céu da manhã de uma tarde que se fazia bela e acompanhada de gotas de suor e algumas lágrimas...

E teus olhos me fixaram vários desejos e vários pedidos foram atendidos, o aroma da vareta do incenso subia em fumaça como serpenteando rumo a algum lugar, um momento que se fazia.

Minha pele sendo a sua, teu cheiro o meu... Nossos segredos dados em sussurros...

Proferidos os anseios por lábios aos lábios, uma força transferida por mãos nas mãos...

Entradas e saídas, trocadas em carícias, um abraço, um beijo, uma vez homem e na outra uma mulher...

Uma saliva misturada...

Eu em você e você em mim...

Assim!