Eram dezessete e trinta horas, saía de Botafogo.Vinha para casa, após dia intenso de trabalho e muita conversa nos intervalos.
As colegas contavam sobre os bailes que foram na terça e eu ouvia, em meio à risadas e brincadeiras delas.
Enquanto riam, eu refletia.
Diziam, que estamos vivendo momentos em que as pessoas de nossa faixa etária, não se prendem à relações afetivas. Tudo é passageiro, apenas “ficam”. Notava tristeza nos olhos de algumas. Sou boa observadora.
Lembrava os meus filhos dizendo o mesmo, quando perguntava-lhes sobre alguma garota, o que me levava a imaginar, ser um modo jovem de referirem-se aos relacionamentos iniciantes. Aos poucos, fui incorporando este conceito depois das explicações, pois era algo novo para mim e aí, não estranhava mais. Hoje em dia, apenas “ficamos”, diziam.
Hoje, escutei este termo inúmeras vezes na minha sala, mas a referência, não era mais o jovem, mas senhores e senhoras maduros, vividos, da minha idade.
Isso me assustou.
Pergunto, o que as pessoas pensam em relação ao tempo? Sem pessimismo, será que dão conta, de que a vida corre por entre os dedos? Será que percebem, que cada dia é um dia a menos? Será que, por saberem disso, buscam desesperadamente viverem todas as emoções atropeladamente?
Este comportamento, percebo tanto nas mulheres, em menor proporção em razão de princípios familiares, quanto nos homens, um pouco mais, também pela formação machista e outros problemas pertinentes e naturais da idade. De uma forma ou de outra, estamos vivenciando estes fatos comportamentais.
Por que estou escrevendo sobre isso?
Ainda que goste de instigar a reflexão sobre alguns assuntos , me entristece a percepção, eu diria, da ausência do valor à companhia, à solidariedade, à parceria, à cumplicidade e à amizade sólida advindos do relacionamento duradouro e sensato. Não me referi a casamento formal hora nenhuma.
Gostaria de provocá-los, acerca da velhice solitária ou que sofre de solidão. Parece-me que nossa geração está fadada a isso. Encontro muitas pessoas sozinhas. Pessoas inteligentes, íntegras e quando indago a razão, dizem-me que não encontram um namorado ou namorada, visto que estes, não têm interesse em nada sério. Só querem também “ficar”, aproveitarem da melhor forma os momentos e só. Aprendemos com nossos filhos, sem termos a idade deles.
Máximas como " vida é feita de momentos", "nem sei se vou viver o futuro", ou "nosso futuro é agora", vão dizer e eu concordo, não devemos deixá-los passar.
Também vivo meus momentos, claro. Não estou excluída, de nenhum argumento que tenha utilizado para fundamentar o que escrevo, todavia, a intenção é provocar a preocupação com a solidão futura, mal deste século, especialmente quando necessitarmos de alguém a nosso lado com os mesmos interesses.
Vão contestar decerto este texto, mas é sempre o que desejo. Ao menos, levantei a questão.
Imagem do Google