Perdição...
O piano, aqui instrumentado pelo computador, uma das mais genuínas obras e invenções da humanidade, pois, artista tão quase perfeito como este, ainda não avistei nesta terra outorgada por Cabral, nem lá pelo Velho Continente. O dedilhar do artista, escorre por entre as teclas e anuncia no imponente e minúsculo PC. É quase que perfeito seu grunhir em meus ouvidos. Não sei bem o posicionar das teclas, tento fechar os olhos e ouvir. De pálpebras arriadas e ainda em ressonância com o barulho, a imaginação toma conta de meu intelecto, e atento a todos os barulhos, viajo... O espaço é pequeno na percepção da visão. Mas, quando me deixo embriagar pela criação, tudo é grande, imenso. Como um componente de teste em túnel de vento, o voar das pás rodando do pequeno ventilador, transforma tudo ao redor em uma tempestade, tendo o imponente sudoeste como reitor. O que mais posso perceber? De imediato, num compasso rápido cronometrado a cada invasão da aurícula e expulsão do elemento do ventrículo, bate este ser vivente encaixotado ao meio da caixa torácica. A percepção acelera, e como um colorido queimando as artérias, imagino em um tom de amarelo ovo a energia da vida se renovando. Junto ao que o silêncio nos permite redescobrir em um dia de poluição sonora. Atormentado de supetão, o rasgar da descarga barulhenta de uma motocicleta pela rua, são segundos, os mesmo segundos que fazem a vida esvairir-se. Mas, há um silêncio ainda a perceber-se, e com a magnitude de um sabiá em dia de sol, o assobio daquele já tradicional comparsa dos paralelos da rua, sendo companheiro da noite, informa como trem das onze, que já são tais horas. Os olhos, ainda não têm forças para esbugalhar-se, tremem, trepidam as pálpebras, parece que há medo, imagino que seja receio, talvez até preguiça, ou seria mesmo o fato de estes permanecendo assim, poderia continuar minha viagem ao mundo passado vivido agora mesmo neste segundo atrás. Ou, sería ter o prazer de ouvir aquele toque do piano, invadindo o silêncio deste quadrado isolado de tudo. Ouço o teclar e bater do piano. Ouço o coçar dos tímpanos, e sinto uma paz enorme, será o sono? Será a solidão? Será que me perco na noite vazia? Será a perdição?
Junior – Um sonhador