Macuméisso, o Homem Sem Nenhum Escrúpulo

Hoje vamos falar do Homem Sem Nenhum Escrúpulo. A primeira impressão é de que se trata de um personagem, mas não é nada disso: O Homem Sem Nenhum Escrúpulo é real. É uma espécie de ser humano. É uma classe. É uma conseqüência. E é cada vez mais comum.

O Homem Sem Nenhum Escrúpulo está por todos os lados, em todas as esferas da sociedade. Na política, nas artes, na televisão... É muito fácil reconhecer o Homem Sem Nenhum Escrúpulo - vamos chamá-lo doravante de HSNE, como faria o Veríssimo. Quer um exemplo bem simples? Lá vai: o HSNE não tem onde cair morto mas já adquiriu o seu I-Phone 3G; ele só omite o fato de que foi em 36 vezes sem entrada nas Casas Bahia.

Sabemos que o HSNE pode ser do sexo masculino ou feminino – obviamente; ou melhor, nasceu sob uma destas condições, mas para descrevê-lo melhor podemos dividi-lo em algumas subclasses: “G” (gay) ou “M” (metrossexual), para os que nasceram sob a condição de masculino; e “P” (patricinha) ou “L” (lésbica) para os que nasceram sob a condição de feminino.

O HSNE tipo “G” pinta as unhas, depila-se, nunca leu José J. Veiga, passa horas malhando, tem o abdômen tipo “tanquinho” e dá o toba. Já o HSNE tipo “M” depila-se, nunca leu José J. Veiga, passa horas malhando, pinta as unhas, tem o abdômen tipo “tanquinho”, mas não dá o toba. Pesquisas recentes mostram que o tipo “M” vem diminuindo na mesma proporção em que cresce o número do tipo “G”. Como a única característica que os diferencia é dar ou não o toba e os HSNE do tipo “M” jamais garantiram que nunca dariam o toba, é possível que este último entre em processo de extinção a qualquer momento.

Os HSNE que nasceram sob uma primeira condição de sexo feminino, por sua vez, possuem características mais diferenciadas. O tipo “P” masca chiclete de boca aberta, mas tem uma certa cultura, apesar de nunca ter lido José J. Veiga: conhece o nome de todos os integrantes de todos os grupos de pagode e de todas as funkeiras mulheres-frutas-e-filés que assolam o país atualmente. Gasta muitas horas de seu dia tentando se inscrever em reality-shows do tipo Big Brother. Pode parecer antipática à primeira vista, mas é extremamente caridosa, incapaz de recusar um boquete a um amigo necessitado (aconselhe-a a cuspir o chiclete antes).

Os HSNE do tipo “L” mereceriam um capítulo à parte, já que formam um grupo altamente organizado, com claras intenções de dominar o mundo. A única coincidência com o tipo “P” é que nunca leram José J. Veiga. Há tempos deixaram de escarrar no chão e coçar o saco. Reúnem-se em quartéis-generais espalhados por todos os cantos. Estes quartéis multiplicaram-se mais rapidamente do que templos evangélicos nos últimos anos, e são mais perigosos ainda, porque estão disfarçados em inofensivos bares de MPB, onde suas líderes promovem verdadeiras lavagens cerebrais tocando e cantando todo o repertório da Ana Carolina. Um HSNE do tipo “L” não perde tempo quando vê a possibilidade de arrebanhar novatas. Jamais (JAMAIS!) permita que uma amiga triste pelo rompimento com o namorado, ou mesmo aquela ex que você ainda quer reconquistar se aproxime de um HSNE tipo “L”. Se possível, prefira que ela entre para o tipo “P” e garanta um boquete pro futuro.

Há ainda muitas outras características que definem um HSNE. Não bastam as condições descritas acima. Um legítimo HSNE, por exemplo, faz aliança política no segundo turno com aquele que ele chamava de falso, hipócrita, dissimulado e vagabundo no primeiro turno. Um HSNE que se preza demite do serviço público dois cunhados que haviam sido contratados sem concurso para cargos de confiança, com salário acima dos dez mil, mas contrata suas respectivas esposas para as vagas. Mas estes assuntos são para um próximo capítulo.

Para encerrar, vamos dar uma receita básica para você fazer em casa o seu próprio HSNE.

Receita básica de HSNE

Ingredientes:

- 1 vocalista de banda EMO;

- 2 apresentadores de vendas do Polishop;

- 1 colunista da Veja (indispensável);

- ½ comentarista de futebol de programas do tipo bate-bola, preferencialmente o Roberto Avalone (é só cortar no meio). Na falta de um Roberto Avalone, pode ser um Milton Neves Mesmo;

- 8 pagodeiros;

- 1 Enéas Filho;

- ½ mulher-melancia (ao cortar, dispense a parte de cima e aproveite só a de baixo);

- 2 duplas sertanejas;

- 1 Celso Pitta (pode ser substituído por fezes de Maluf, o efeito será idêntico);

- Gasolina (o suficiente para cobrir);

Modo de fazer:

Em um tacho grande junte todos os ingredientes menos os pagodeiros; estes devem ficar reservados, se possível algemados, para que não fujam, ou não toquem, o que seria mais trágico. Acrescente folhas de revista Nova (e/ou Caras) e lascas de cds de axé para temperar. Vá adicionando a gasolina aos poucos até cobrir. Risque um fósforo e proteja o rosto. Quando a labareda estiver bem alta vá jogando os pagodeiros, um a um.

Bom apetite!