Feliciano Arriscou

Feliciano. Um cara feliz, com o perdão do trocadilho.

Um vida simples, pai, mãe, dois irmãos. Seria mais uma pessoa comum, não fosse seu medo tremendo de arriscar na vida.

Ver Feliciano na rua era impossível, tinha medo de arriscar atravessar a rua e algum carro lhe atropelar, ou um caminhão, imagine. Ele até sentia uma vontade de sair para as festas quando algum amigo ligava, mas e a rua e se dentro da danceteria a música fosse muito alta? Seus tímpanos poderiam sofrer um rompimento. Seria terrível.

Como só ficava em casa resolveu comprar um video game de última geração, lindo, 38 milhões de cores de resolução, junto já comprou seu jogo preferido, não me lembro o nome, mas era um que não tinha violência. Feliciano tinha muita vontade de jogar, aquele jogo deveria ser ótimo, mas e ligar o video game na tomada? Se por acaso desse uma trovoada e queimasse o aparelho. O video game nunca saiu da caixa. Nem o jogo que tanto gostava.

Ah sim, Feliciano era artista plástico, pintava quadros que as pessoas achavam pura arte, usava tinta guache e o próprio dedo. Os pincéis com aquelas terríveis pontas poderiam furar o olho de alguém facilmente. Usava sempre a cor branca, não queria arriscar nas cores.

Dia desses Feliciano viu uma morena linda, tinha acabado de se mudar para a casa em frente, estava apaixonado, amor à primeira vista. Mas atravessar a rua? Nunca.

Dias se passaram e teve um sonho, um anjo descera e lhe disse pra arriscar mais na vida. Desse jeito não podia ficar.

Já pela manhã estava decidido, iria arriscar, sim, tudo.

Levantou pegou um revólver e deu um tiro na própria cabeça. Decidiu correr o maior risco de todos já de primeira.

Morreu segurando o cd do seu jogo preferido e com o dedo lambusado de guache branco.