O MORTO

No centro, o morto. À cabeceira, a viúva, mãe. À direita do caixão, Ana, filha. À esquerda, Ada, filha.Alguém comenta a queda da estátua de Lênin. Os mais próximos, como em todos os velórios, relembram as virtudes pessoais (no presente caso, também as revolucionárias) do falecido ali e alheio a tudo. Ao fundo, o recém-cunhado de Ana conta piadas, sem dúvida divertidas. As irmãs cruzam olhares, por sobre o peito do morto. Mais tarde, na hora do enterro, as palavras finais do camarada e ateu convicto: "Vá em paz, companheiro".