MEUS HUMANOS DE ESTIMAÇÃO
Meus humanos de estimação
Olá, meu nome é Clara, sou uma linda gatinha branca, tenho aproximadamente quatro meses de vida. Parece pouco, mas para mim, os três primeiros meses pareceram uma década. Logo que nasci fui deixada num gatil de uma faculdade junto com uma multidão de bichanos. Gatos grandes, pequenos, machos, fêmeas, filhotes, enfim, muitos mesmo. Infelizmente na sua maioria doentes, como eu. Eu sofria com uma dor no peito, focinho sempre escorrendo, espirrava o dia todo e havia muitas falhas na minha pelagem branquinha. Mesmo com muitos filhotes ali nós não costumávamos brincar muito devido às dores intensas. Costumávamos ficar num cantinho quietinhos, esperando por um milagre. Dia após dia eu via meus amiguinhos sumindo, morrendo. O terror da idéia de morrer me assombrava mesmo estando doente. De vez em quando aparecia alguém lá e escolhia um de nós e levava, por isso eu passava quase o dia todo me limpando para deixar meu pêlo bem branquinho e bonito para despertar o interesse das pessoas. Os dias passavam e eu ali, doente e cada vez mais fraquinha, já quase sem esperança. Um dia senti meu coraçãozinho apertar. Uma garota do curso de veterinária foi lá no gatil e ficou penalizada com a nossa situação. Eu via nos seus olhos a compaixão que sentia por nós. Ele me olhou fixamente e eu tremi. Dirigiu-se a mim, pegou-me no colo e percebeu o quão debilitada eu estava. Viu meus pêlos falhados pelo corpo. Então pensei: “ela não vai me querer, estou muito feia e doente”. E ela se foi e eu fiquei ali no meu cantinho, chorando e imaginando que só sairia dali morta. Mas não desisti de mim. Continuei a me limpar e deixar meus pêlos muito branquinhos. No outro dia a garota voltou. Novamente olhou para mim com olhos tristes, me abraçou carinhosamente e colocou-me numa caixa. Eu não tinha a menor idéia de para onde estava indo e nem para quê, mas pelo olhar daquela garota, tinha a certeza de que seria para um lugar melhor.
Chegamos em uma bela casa e logo alguém veio me ver. Era a mãe da garota. Ela me olhou e eu olhei para ela. Nossa, amei aquela mulher no instante em que a vi. E ela parece ter sentido o mesmo por mim. Amor à primeira vista. Bem, até então eu não tinha nenhum nome. Foi então que elas resolveram me chamar de Clara por causa dos meus pêlos branquinhos. Valeu a pena deixá-los sempre limpinhos. Eu adorei meu nome. Aí descobri que a garota se chama Mariana e sua mãe Sonia. Me colocaram num quartinho quentinho com comida boa e água fresquinha. Levaram-me a uma clínica veterinária e começaram a cuidar de mim. Eu só não gostava de tomar aqueles remédios com gosto ruim e as picadas de injeção. Eu gritava e tentava escapar arranhando quem estivesse por perto. Mas felizmente elas foram muito pacientes comigo. Na casa havia uma turma legal. O Milú, um Cocker grandalhão e desajeitado, no começo tive medo dele mas descobri que é um amor de cachorro. Tem o Zé, um vira-lata(ele não gosta que chamem ele assim) muito educado e bonzinho. Ele me contou que estava à beira da morte quando foi resgatado por elas na calçada em frente à casa. A Nina é um linda siamesa gorducha e temperamental. Fiquei sabendo que a Mariana a trouxe da faculdade também. Ela é geniosa, mas eu gostei dela de cara. Ah, e tem o Murphy. Esse aí é o queridinho. Acredita que ele mama na orelha da mamãe(Sonia) até hoje? Pode isso? Ele é lindo, pelagem branca e preta, muito calmo e tranqüilo. Foi adotado numa feira do IVVA. É, parece que tive sorte, acho que vim para o paraíso sem precisar passar pela morte. A casa está sempre movimentada. Recebo carinho o tempo todo. Tem o namorado da mamãe, o namorado da Mariana, o irmão dela(ele não dá muita atenção mas é gente boa), a namorada dele que também é legal. Nossa, minha vida ficou muito boa aqui. Só não gostei de uma coisa. Por causa dessa minha mania de me limpar o tempo todo eles dizem que tenho neura por limpeza. Mas também, com pêlos tão branquinhos eu não posso me descuidar. Ah, mas eu gosto quando dizem que pareço um floco de neve ou uma bola de algodão.
É, eu tirei a sorte grande mesmo. Hoje tenho um lar, muitos amigos e meus humanos de estimação. Só fico triste quando lembro dos meus amiguinhos que ficaram lá no gatil. Tomara que tenham a mesma sorte que eu.