ENCANTADOR DE PENSAMENTOS
Estou tentando permanecer com a mente vazia. Explico, tento navegar com lucidez pelo meu mar turbulento de pensamentos e quanto mais longe avanço, maiores são os meus ganhos. Parece loucura? Que nada! Insanidade é essa confusão de pensamento que não me deixa pensar direito.
Casa limpa é casa vazia. Até gosto das visitas, mas aparece cada coisa, que ás vezes me assusta. Principalmente antes de dormir...
Há uma propaganda na televisão sobre um jornal para executivos que mostra um executivo sendo abraçado por sua esposa na cama, enquanto sua mente pensa em gráficos, números e valores. A música em inglês de fundo diz: "we´ve got no time". Eu hein? Nem pensar! Como na canção do Kleiton e Kledir, ficar pensando em outras coisas na cama, que não em dormir ou fazer amor? Nem pensar!
Contudo, é assim que nos ensina a cartilha do mundo moderno: Desocupado é vagabundo; ocioso é doido; mente vazia é oficina do cão. Do cão??? Acho que não!
Mente vazia é morada de passarinho, pois somente sem os entraves dos mil pensamentos, que podemos bater as asas e ir além do tempo, do espaço, rumo a quem somos de verdade. Sim, tenho feito isso e tem funcionado. Antes de dormir, tenho meditado. Nada parecido com aquela coisa meio zen futuro, de pose de yogue e OM absoluto. Sou cabra macho e não faço essas coisas ( pelo menos não mais agora). O que faço é observar o balanço do pensamento, sem tentar domá-lo. Sim, já tentei dominá-lo e levei na cabeça. Pensamento é cavalo brabo, quanto mais força fazemos para laçá-lo, mas o bicho fica danado e dá coice para tudo que é lado. Por isso, vou meio de mansinho, tentando encantá-lo. Observo o bailado, meio que se eu estivesse desligado, pensando em outra coisa e quanto menos dou bola, mais ele fica calmo, sereno e dentro do seu cercado. Sim, há encantadores de cavalos e eu sou encantador de pensamentos, pois tendo esses moleques pirracentos controlados, posso soltar os meus pássaros e voar sossegado.
Confesso que a primeira vez que os encantei, fiquei sentindo um vazio danado. Achei esquisito e até senti medo. Cadê aquele pensamento bobo, Meu Deus? Cadê aquela preocupação sem futuro? Cadê aquele pensamento mortal? Em princípio, fica mesmo um buraco na mente, pois acostumado com o barulho da mente, a casa vazia nos causa certo receio. Afinal, toda aquela enxurrada de pensamentos nos dá uma falsa sensação de segurança e conforto. Porém, é somente com a casa vazia que conseguimos pôr as contas em dias, investigar cada quarto, perceber coisas que pareciam não estar por lá antes e nos darmos conta que se a nossa casa é bem maior do que pensávamos, imagina o que há além do quintal...