À LUZ DO SUICÍDIO.
Outro dia uma amiga me sugeriu que eu escrevesse sobre o Suicídio, na ocasião ela me disse que este assunto é algo a ser pensado, principalmente aqui em nossa região que nos parece tão evidente e presente: Mortes por suicídios.
Pensando sobre a proposta desta amiga, resolvi escrever, não sobre o Suicídio Cabal, mas sobre as muitas formas de Suicídios que nos apresenta nestes tempos modernos. Hoje em dia a presença da morte parece ocupar muito o nosso espaço físico e mental, na mídia não se aborda outro tema, pois é uma triste realidade. Por vezes observamos que a morte anda mais indócil, anda as espreitas nas esquinas, nos Lares, em todos os lugares. Ronda insistentemente nossa existência atormentada.
Chega pelas mãos do assassino portando armas de todo calibre, pela criatividade e ousadias dos ladrões que se esmeram cada vez mais nos assaltos que praticam e deixam rastros lamentáveis, pelos traficantes oferecendo drogas afrodisíacas e paradisíacas aos nossos jovens e crianças, pelas guerras urbanas e internacionais, pelos conflitos de idéias, pela promoção insistente na oferta de produtos cada vez mais sofisticados e de última geração que levam pessoas a se endividarem cada vez mais, pela queda dos valores morais da família, da religião, da política, pelas mutilações físicas que oferecem rejuvenescimento a todos e as mulheres são as mais sensíveis a tais mudanças e promessas.Porque o preço da vida está na qualidade da beleza exterior. Parece feio envelhecer com as rugas do tempo. O tempo virou inimigo das experiências.
A falta de Tempo pode ser olhada como uma outra forma de morte, imprime uma corrida que impede - nos refletir com aprumo sobre a qualidade do que temos vivido ou estamos vivendo. Simplesmente corremos em busca do prazer, da felicidade, não observamos a sobrecarga sobre os compromissos, criamos a cultura da competitividade, da força e diante destes apelos fechamos os olhos para o Arco-íris do Tempo. As coisas parecem brilhar com mais intensidade, reluz a toque de caixa. Surgem as frustrações diante do impossível e inverossímil. Interagimos com as pessoas com certa fragilidade, não refletirmos por muito tempo as perdas e nem mesmo as conquistas. O tempo urge, já não há mais tempo para nada. Corre meu amigo, corre porque atrás vem gente. E assim lá se vai o tempo do agora e assim pode-se encontrar a morte logo ali na virada de uma esquina.
Não queremos olhar para trás quando tudo parecia lento e real demais. As relações eram duradouras. Ou duravam por falta de opções? Não havia carros em séries nas montadoras, não havia televisão, agora digital, não havia Internet, não havia Rodovias alargadas e incrementadas e nem espaços aéreos congestionados. Os encontros eram marcados na esquina, na casa dos amigos ou dos parentes. Ia-se de um lugar para outro a pé, ou de ônibus, ou de trem ou de navio, viagens aéreas ainda eram raras e para uma pequena elite. Nestes tempos a morte era falada como algo do destino e de longo prazo para cada um. Quando acontecia alguma fatalidade antes do tempo previsto ou pelo menos pensado como tal, regulado pela idade na velhice, o luto era certo e prezado até que a vida se encarregasse de apascentar os ânimos.
Agora ao ouvirmos ou lermos uma tragédia, um crime bárbaro acontecido nas favelas, no asfalto ou dentro dos próprios Lares ficamos horrorizados, estupefatos, compadecidos, paranóicos, mas após um tempo tudo passa e a vida parece voltar ao Normal, até a próxima notícia infernal, que com certeza será logo depois daquela última. Banalização dos acontecimentos, da morte, dos crimes? Ou torpor inconsciente, como uma defesa natural ao horror sobre o que se vive hoje? Expressamos claramente que não suportamos mais ligar a TV, ou abrir o Jornal e só encontramos “sangue”.
Eu diria que uma soma de tudo, ou seja, da falta de reflexões sobre os verdadeiros rumos da vida que cada um pode ter e escolher, sem se deixar conduzir maciçamente pelos apelos de uma vida de resultados imediatos – dinheiro, poder e sexo; da falta de uma comunidade voltada pelo bem comum e não apenas pelo bem de consumo; da falta dos pais tomarem os filhos como seus e oferecer a eles, filhos, uma educação firme e de resultados efetivos, que chorem eles hoje se preciso for e não vocês amanhã; da falta de uma boa política de integração entre a educação e a saúde na rede pública, da falta de religiosidade em família ou em cada um em especial. Diz-se que a fé remove montanhas. Então acredito que diante de tantas barbaridades nossa fé não anda movendo nem mais as pedras do caminho.
Estamos correndo demais para pararmos e olharmos o tamanho dos obstáculos que temos pela frente e assim podermos remover e olhar embaixo das pedras, quem sabe ali está a solução dos muitos problemas da vida. Ao invés disto passamos por cima das pedras, contornamos as montanhas e criamos a cultura dos falsos valores éticos e morais.
E então minha amiga? Todas essas coisas assim pensadas são ou não são formas tristes de deixar morrer ou matar a vida? De matar o bom que há em nós, e reforçando o nosso lado mau? E se as pessoas estão se matando mais hoje do que faziam antigamente, podemos pensar que de uma forma latente ou não, colocamos uma arma destruidora nas mãos de cada uma delas, e contribuímos para que elas, as pessoas, deixem morrer a fé em si mesmas, no amor, nas pessoas que a acercam e neste mundo.
Por Graça Costa.
Junho/2008.