O REAL NOS CONTOS DE FADA II _O GRANDE MASSACRE DE GATOS

Qual é o motivo da LITERATURA tornar-se tão importante na vida do HOMEM MODERNO?

A guerra, as epidemias e a fome assolava a França e toda a Europa nos períodos da Idade Média até os Tempos Modernos. Os camponeses eram relativamente livres — menos que os pequenos proprietários rurais, que se transformavam em trabalhadores sem terras, na Inglaterra. e mais que os servos, que mergulhavam numa espécie de escravidão, a leste do Elba. Mas, não podiam escapar a um sistema sehorial que lhes negava terras suficientes para alcançarem a independência econômica, e que lhes sugava qualquer excedente por eles por eles produzido.

Os homens trabalhavam do amanhecer ao anoitecer, arranhando o solo em faixas dispersas de terra, com arados semelhantes aos empregados pelos romanos, e cortando seu cereal com pequenas foices primitivas, a fim de deixar um restolho suficiente para a pastagem dos poucos animais que pertenciam também a toda a comunidade. As mulheres se casavam tarde — entre vinte e cinco e vinte e sete anos — e davam à luz apenas cinco ou seis filhos, dos quais apenas dois ou três sobreviviam até a idade adulta.

Grandes massas humanas viviam num estado de subnutrição crônica, subsistindo sobretudo com uma papa feita de pão e água, eventualmente, tendo nela misturadas algumas verduras de cultivo doméstico. Comiam carne apenas umas poucas vezes por ano, em dias de festa ou depois do abate do outono, que só ocorria quando não tinham silagem (comida) suficiente para alimentar o gado durante o inverno.

Muitas vezes, não conseguiam o quilo diário de pão (2.000 calorias) de que necessitavam para se manterem com saúde, então, tinham pouca proteção contra os efeitos conjugados da escassez de cereais (fome crônica) e da doença (desde a uma diarréia, um resfriado ou a peste negra). A população flutuava entre quinze e vinte milhões de pessoas e se expandia até o limite de sua capacidade produtiva e era devastada pela Peste Negra, em 1347, a grande maioria da população foi dizimada a "história das pessoas era trágica e muito cruel".

Essa expressão, agora, parece exagerada, pois não chega a fazer justiça ao conflito religioso, aos motins da fome para roubar os cereais das pessoas abastadas, e às rebeliões contra a extensão do poder estatal, com seus altos impostos. No universo remoto de Paris e Versalhes, enquanto, os ministros iam e vinham para pedir a paz, as batalhas se encarniçavam e havia tantas mortes que os cadáveres apodreciam nas ruelas e caminhos por onde as pessoas passavam. Em tempos de escassez, as famílias pobres tinham de comprar sua comida. Sofriam como consumidores, enquanto, os preços disparavam, os camponeses mais prósperos tinham grandes lucros.

Assim, uma sucessão de más colheitas podia polarizar a aldeia, levando as famílias marginais à indigência, enquanto os ricos ficavam mais ricos. Diante destas dificuldades, os “pequenos” (petítes gens) sobreviviam com a esperteza. Conseguiam trabalho como lavradores, teciam e fiavam panos em suas cabanas, faziam trabalhos avulsos e saíam pela estrada, pegando serviços, onde pudessem encontrá-los.

Muitos não resistiam! Neste caso, saíam pela estrada para sempre, seguindo à deriva com os destroços e as sobras dessa (“população flutuante”) da França, nela, incluía vários milhões de criaturas desesperadas, por volta de 1780. Com exceção dos privilegiados que faziam um tour de France como artesãos, e as ocasionais troupes de atores e saltimbancos, a vida na estrada significava passar o tempo recolhendo restos de comida.

Os itinerantes invadiam galinheiros, ordenhavam vacas às soltas, roubavam roupa lavada, secando sobre as cercas, cortavam a tesouradas as caudas dos cavalos (que eram vendidas a estofadores) e dilaceravam e disfarçavam seus corpos, a fim de passarem por inválidos, em locais onde estavam sendo distribuídas esmolas. Ingressavam e desertavam de um regimento após outro, e serviam como falsos recrutas. Tornavam-se contrabandistas, salteadores de estradas, punguistas, prostitutas. E, no final, entregavam-se aos hôpitaux; imundas casas para os pobres, ou rastejavam para debaixo de um arbusto ou de um palheiro e morriam — croquants, isto é, literalmente, “esticavam as canelas”.

A morte vinha da mesma maneira implacável para as famílias, que permaneciam em suas aldeias, e, se mantinham acima da linha de pobreza. Cerca de 45 por cento dos franceses nascidos no século XVIII, morriam antes da idade de dez anos. Poucos dos sobreviventes chegavam à idade adulta antes da morte de, pelo menos, um de seus pais. E poucos pais chegavam ao fim de seus anos férteis, porque a morte os interrompia. Terminados com a morte, e não com o divórcio, os casamentos duravam uma média de quinze anos, metade da duração que têm na França de hoje.

Em Crulai, um em cinco maridos perdia a esposa, e então tornava a casar-se. As madrastas proliferavam por toda parte muito mais que os padrastos, porque o índice de novos casamentos entre as viúvas era de um em dez. Os filhos postiços podem não ter sido tratados como Cinderela, mas as relações entre os irmãos, provavelmente, eram difíceis. Um novo filho, muitas vezes, significava a diferença entre pobreza e indigência. Mesmo, quando não sobrecarregava a despensa da família, podia trazer a penúria para a próxima geração, aumentando o número de pretendentes, quando a terra dos pais fosse dividida entre seus herdeiros.(...)