Je Ne Regrette Rien

E assim como a velha canção francesa me passa inspiração para a alma, hoje resolvi passá-la, aqui nesta crônica, não apenas para os que a lerem com os olhos, mas também para o que assim fazem com o coração. Afinal, Edith Piaf foi a interpretação da pura poesia em forma de canção.

Nunca se falou tanto em liberdade de expressão como atualmente. Dos quatro vértices do planeta ouve-se com certa freqüência que a modernidade trouxe para próximo do homem a possibilidade de pecar e, às vezes, de ser punido por isso, quando o pecado cometido ferir assim a liberdade de outros.

Bem, as mais diversas culturas, é claro, se encarregam de tecer suas próprias regras e com isso proclamar, para os _inquilinos de sua geografia, o que é correto (permissível fazer-se) ou incorreto (o oposto).

Procuro ouvir os meus passos em tudo o que eu faço, pensando assim estar fazendo algo de bom para os outros e depois para mim. Assorear nossa vida com egoísmos mesquinhos não deve ser cultivado por ninguém.

Tenho reconhecidamente dentro de mim o prazer de ter, gratuitamente, desde um pôr-do-sol ao próprio ar que respiro. Ganhei certo dia o direito de viver, de possuir uma personalidade e de existir como um indivíduo da espécie humana. Tenho, portanto, a obrigação prazerosa de zelar no íntimo do meu olhar por esse aspecto dadivoso da natureza divina para comigo mesmo. Incontestavelmente sou proprietário de tudo isso. Dou-me parabéns e continuo com a crônica.

Quem terá dado todo o encanto da voz e do olhar de Edith Piaf? A mesma natureza que me permitiu cultivar certa ansiedade dentro dessas reflexões que faço e, comodamente, socializar com os leitores que se dispõem a ler-me. A vida é feita dessas pequenas grandes cousas.

Eu venero minhas amizades e aprecio encontrá-las vivas dentro de minha alma. O espetáculo vívido que essa percepção nos oferece é o que nos gabarita a acreditarmos que somos a melodia de Deus.

Precisamos de que as coisas boas do passado sejam repatriadas dentro de nós e o romantismo renasça revigorado e pleno. O homem está, cada vez mais, impedindo-se de ser simplório e belo como deveria realmente sê-lo. Há um determinado vácuo dentro de cada um, deszelado e ignorado. A violência tem nos roubado o tempo com o qual deveríamos estar achando o passado interessante que priorizamos esquecer. O melhor da vida é reaprendermos com os reolhares e o cultivo das nossas melhores experiências de vida. A alma chora quando apenas o corpo vê. É carecido voltarmos para o passado e dele retrazermos todo o amor descuidado e esquecido que não nos incomoda tanto de ele não ter sido largado ao léu de nosso mais íntimo desprezo.

Já ouço muito a canção na voz de Piaf! Seus olhos azuis traduzem além da melodia. Estou pronto para saudosamente saudá-la dentro de mim para só agora nesta crônica e através dela publicar o meu alvissareiro carinho com esse “belo” do passado, muito esquecido por nós.

Desde pequenino aprendi a admirar o idioma francês através das belas apresentaçõesque a alma de minha amada e saudosa mãe costumava fazer à frente da minha Edith Piaf à qual me apresentou. Foi amor à primeira vista. Duas grandes mulheres que passaram por minha vida e deixaram as essências de suas próprias essências, o que não tem me permitido esquecer o passado saudoso, no qual a alma era bem maior que o corpo, diferentemente dos dias de hoje.

Finalizo esta crônica ouvindo Je Ne Regrette Rien lembrando-me da própria alma da vida como um todo. Vale a pena o amigo leitor ouvi-la também e posicionar-se reflexivamente sobre esse tema tão permissivamente atual. O hino ao amor na voz de Edith Piaf é duplamente belo.