Mulheres choram

“Não posso ver uma mulher chorando”; ele me disse cabisbaixo, preocupado com uma garota que acabara de passar no corredor. “E por que, então, você faz uma mulher chorar todos os dias?” – pensei, tomada por um impulso talvez egoísta – e, por motivos óbvios, não exteriorizei a resposta. Botei no rosto um sorriso amarelo e respondi apenas com um toque em seu ombro esquerdo. Ele continuou sua leitura enquanto eu soprava meu café (que não conseguiria engolir naquele instante, tamanho era o nó que se formara em minha garganta). Então, depois de pensar por mais alguns segundos, ele decidiu quebrar o silêncio: “Me faz mal. Me dá pena… Impotência, sabe?”. Olhou com cara de quem precisa de colo. “É… Imagino” – respondi sem graça – “que deva ser muito ruim mesmo”. E o silêncio voltou, dessa vez para ficar, enquanto, mais uma vez, eu chorava por dentro por causa dele.

(E agora, mais do que nunca, eu sabia que ele não poderia descobrir. Se não me tinha amor, então não teria pena).