A hora de falar grosso

Muitas das nossas histórias diárias se assemelham (e certamente não é coincidência) com a estória do Zé e seu Jegue de carga. Ele puxava guiando o jegue carregado subindo uma ladeira e cada um que passava, do jegue se apiedava e apupava o cruel proprietário. Este, sentindo-se mal com as críticas, tirava a carga do jegue e ele mesmo a levava. Aí outros o acusavam de tolo e diziam que jegue é para levar a carga e o dono também montado. O sensível Zé pôs então a carga de volta no jegue e subiu também. Nova critica surgiu com outros passantes o execrando como torturador de animais... Bem, parte da imprensa brasileira tem feito como os que cruzavam com o Zé. Querem que o governo tome uma posição enérgica contra os países vizinhos: Bolívia, Venezuela e, mais recentemente, o Equador com o caso da Odebrecht, acusada pelo governo daquele país de falhar na construção de uma Hidroelétrica e expulsa de lá. A dose dada para o tratamento das questões tem mais gotas ou menos gotas de acordo com o gosto (ou rejeição) do freguês. O governo acertadamente não deve dar ouvidos sem reflexão a plantonistas de notícia que muitas vezes só querem aumentar a tiragem / audiência de seus periódicos noticiários ou agradar seguimentos afinados com certas tendências ideológicas que, hoje muito mais que ontem, não mais se justificam.

Quem deverá decidir com quem e quando fala grosso é quem sabe o quanto o Brasil poderá perder ou ganhar com sua política externa, a médio e longo prazo. Brasil é Brasil e Zé do jegue é apenas Zé do jegue.