A PARÁBOLA DO MENINO ABANDONADO
A PARÁBOLA DO MENINO ABANDONADO...
Pedrinho foi um menino muito feliz. Nasceu em berço pobre. Muito pobre. Suas fraldas já tinham sido usadas por outras crianças. Mas assim mesmo cresceu. Vingou, como dizem certas pessoas. Pedrinho tinha irmãos. Para ser mais exato irmão e irmã. Apesar das constantes mudanças do pai de Pedrinho ele conseguiu estudar. Chegou até passar no vestibular para a faculdade.
Nessa época conheceu Marília, moça bonita, vindo da capital do estado. Pedro agora já era homem feito. Trabalhava, estudava e até dava algumas aulas. Levado pelos encantos de Marília, Pedro deixou a faculdade e correu atrás dela. Foi embora para a capital. Sempre ao lado da sua amada. Ambos se apaixonaram e não podia dar outra. Casaram-se. Marília já estava grávida. Sofreram muito na capital. Chegaram até a passar fome. Eles ainda não tinham se adaptado a nova vida. Foi muito difícil.
E como tudo que é bom dura pouco. Começaram as brigas. Marília brigava, Pedro bebia. Pedro bebia. Marília brigava. E a capital não deu certo. A filha já tinha dois anos. Voltaram para o seu interior. Desemprego. Dor. Mais sofrimento. Nasceu a segunda filha do casal. Pedro agora trabalhava num depósito de bebidas. E como vendia. Bebia. Marília brigava. Chorava. Fatalmente veio a separação. Pedro chegou a mudar de cidade e arrumou uma outra mulher. Mas sempre visitou Marília e as filhas. Ganhava pouco, não podia ajudar tanto. Pedro começou uma nova faculdade. Estudou e virou professor. Ele ainda gostava de Marília e um dia voltou para as suas filhas e para os braços de Marília que já não era a mesma. Ela o abraçava fitando o vazio. Aquilo deixava Pedro muito triste. E a sua válvula de escape era a bebida.
As filhas de Pedro cresceram. Uma se casou e foi embora. A outra ficou. Pedro tentou ser feliz. Marília era muito dominadora. Nunca perdoou seu comportamento. Em cada briga, Pedro era quem tinha que baixar a cabeça. Os pais de Marília sempre colocando o bico na vida do casal. Marília temia a austeridade da mãe. E com isso magoava Pedro. Pedro já não tinha mais um minuto de felicidade. Fingia às vezes. Mas quando ficava só pensava muito. E muito triste começou a esperar o fim. Ele sempre cantava uma música da Martinha que dizia: “Só eu sei dos passos lentos que eu vou dar a esperar o fim... Vai ser assim...”
Pedro morreu. “Era um bom menino!”, disseram alguns. “Marília descansou!”, outros sopravam... Mesmo no velório.
Theo Padilha, 10 de outubro de 2008.