Confissões de uma mulher madura
Que ninguém me ouça...
Quando jovem eu achava que jamais aconteceria comigo.
No sentido figurado da vida, hoje eu conjugo o verbo no passado e no presente.
Antes era conjugado no presente e no futuro.
Por mais moderna que seja, na maneira de ser, vestir e pensar. Tem coisas que não dependem de querer.
Olha que eu tento não pensar nisso. Impossível!
É mais forte que minha vontade.
Antes qualquer roupa ficava bem, hoje preciso ser mais discreta, pois o corpo já não é mais o mesmo, o número do manequim cresceu uns dois ou três...
Qualquer hora que ia dormir, mesmo de madrugada, acordava as seis para trabalhar, hoje nem saio mais, pois o dia de amanhã será terrível...
Pra comer então... Nada fazia mal ou engordava, hoje não pode comer isso ou aquilo, que sobe o colesterol, a pressão arterial (come-se verduras, legumes, vegetais e mesmo assim, o ponteiro da balança não mexe).
Aí, dizem que precisamos fazer caminhada, academia, pra fortalecer os ossos, emagrecer e ter mais saúde...
Sexo era tudo. Não via a hora de ficar a sós pra ter aquela trepada, cheia de prazer, delírios, não tinha dia, nem hora e nem local, qualquer oportunidade, lá estávamos nos abraçando, beijando e deixando o desejo falar mais alto.
Hoje ficamos a sós quase sempre, pois as crianças cresceram e se foram. Temos todo o tempo do mundo pra namorar...
Mas, o desejo, o prazer, nem sempre estão presentes.
Aí vem os questionamentos, a busca daquela garota de vinte anos atrás, do garoto incansável que não me deixava em paz.
O tempo passou e como passou, ele é implacável, ele está no corpo, na pele, nos cabelos que teimam em ficar brancos e na vontade de ser, de sonhar e na maioria das vezes de amar.
Hoje faço amor, no papo, no olhar, no companheirismo...
Ao conjugar o verbo no passado, ficam as lembranças da juventude, do namoro no portão, do beijo roubado, do primeiro baile, do primeiro amor e da primeira transa.
No presente tento buscar o futuro nos sonhos dos meus filhos, que com certeza de novas pessoinhas que estarão presentes em minha vida.
Que ninguém me ouça...
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