A cidade do interior no coração

Eu venho de uma terra em que a gente conhecia as pessoas pelo nome e sobrenome. Sabia-se quem era pai de quem e onde moravam. Os programas eram os mesmos para a cidade inteira. Missa aos domingos. À tarde, passeio na praça central, até à hora em que o cinema anunciava o início da sessão com uma música característica. Sábado à noite, os jovens encontravam-se na mesma boate. Sabia-se tudo de todos. A situação financeira, onde trabalhavam, quem namorava quem, quem brigou com quem e tudo o mais.

Os jovens estudavam no Ginásio e na escola Normal (quem desejava seguir o magistério). A rivalidade dava-se no desfile de 07 de setembro. Quase sempre, o Ginásio ganhava com a melhor banda e o Normal pelos mais bonitos e caprichados carros alegóricos. A cidade parava. Ah! Os mais abastados freqüentavam o clube social. Eram tempos calmos e pessoais. Tempo em que as crianças brincavam na rua e não tinham medo de quem passava. Tempo em que a palavra valia mais que um papel. Tempo, em que se tinha tempo. Para os amigos e para as visitas. Tempo, sem internet, fax, celular, computador e scanner.

Eu saí muito jovem de minha terra. Direto para Porto Alegre. Morei em Salvador e Recife, mas jamais perdi a “cidade do interior” eternizada dentro de mim. Adoro saber o nome das pessoas, saber que a dona da ferragem já é avó, que a filha da vizinha vai casar e cumprimentar os conhecidos no supermercado. Sinto-me em Soledade. Sinto-me em casa.

23.08.08