MANDACARU
MANDACARU
A arte é algo perturbador... Estou aqui com mandacaru na cabeça, quero investigá-lo, pesquisar, aprender tudo dele como paisagismo e com o seu plantio em larga escala e suas aplicações, Seus usos e aproveitamentos, botanicamente e comercialmente. Só sei que é belíssimo e só dá no Brasil no Nordeste e o povo nem liga pra ele só porque é nativo, quer dizer, de graça. Não precisa de viveiro especial como a tulipa ou a lavanda... Enfim...
Não sei como, distraidamente, fui cair no site, blog da Mariana Massarani: algo tão puro, espontâneo e belo, competente, gente feliz, criativa, vive e sabe viver é a impressão que causa.
Já ia passar pra ela um recado amigo... Retive-me.
Por quê? Inveja? Vergonha?
Um bloco de impedimento de abrir a boca e o coração e expor o meu jeito de ser... Não tem nenhum sentido eu me intimidar com ela. Porque eu talvez tenha sentido que ela teve mais sorte que eu na vida? Ora, que bobagem, exatamente isso vai contra os meus princípios e fins; ou porque, mesmo que eu não ache isto, porque ela é melhor que eu? E daí? Quem é melhor que quem nesta vida? Cada um é cada um.
Nada a comparar, não faz nenhum sentido.
Bom, escrevendo agora já me dá mais sentido sim.
A palavra escrita ou falada é libertadora.
A palavra quando solta ela diz o que a gente quer dizer. Já a arte é uma expressão de desnudar tão explícita, que realmente mete medo fazer a arte. No entanto ela é a expressão maior do ser humano.
Eu me retraio ou me impeço de entrar na arte e dela viver, acho que por medo de mostrar muita coisa de mim que não quero ver ou saber. Está tudo dentro. Tanto, que encontrei outra forma de expressão deliciosa que é a crônica ou um escrito, não tem etiqueta, pode ser boa ou não ser boa.
Percebo que tenho ainda códigos éticos que ignore e que me inibem, assim, de surpresa, quando quase faço um contato com a arte da Mariana Massarani.
Que coisa... Isto é descoberta quase de eu mesma. Das minhas limitações.
Tem hora que me sinto tão evoluída, talentosa, inteligente, ativa, e, em vez de eu ser este sentir, imperceptivelmente, eu me escondo de mim, sem perceber: é aí que está o nó desconhecido que me revira em ser generosa apenas... Ou vaidosa. É como que em vez de eu ser eu e fazer o que sou eu, não alcanço essa parte que não quero alcançar, ou seja, ser eu mesma.
Mas isso é u absurdo, pois estou até falando a respeito. Porque esta brecada?
Há outro lado da questão: a Mariana e eu estávamos na mesma sala da EBA de gravura em metal, e estávamos no mesmo ponto de largada, eu percebi isto na época, o que nos movia era a realização na arte. Dada a partida, corremos, ela correu no caminho certo dela, e eu corri também, mas não foi o caminho certo para mim, foi o que eu tinha pela frente.
Até hoje estou correndo sem parar...
MLUIZA MARTINS