QUANDO BODE VIROU MARIA-TACACA
Vicente era tido pelo vovô, vovó, papai, mamãe, titios, professora e coleguinhas, como um menino muito aplicado nos estudos, conhecido nas redondezas como o garoto que a todos dizia: quando eu crescer vou ser doutor disso e daquilo. Era costume, todas as tardes, a mamãe, com a paciência de uma santa, ensinar pro Vicente o dever de casa. Numa dessas tardes, lá se foi ela para o seu mister. Começou pela leitura, onde o menino apresentava certa dificuldade. Estava escrito na cartilha, entre outras, a palavra BODE, diante da qual deu branco no Vicente e ele empacou. A mamãe, no intuito de ajudá-lo, soletrou o vernáculo à moda antiga: um B com O faz BO - um D com E faz DE. Mesmo assim Vicente não conseguiu juntar as sílabas. A mamãe, embora tivesse soletrado a palavra uma centena de vezes sem perder a paciência, lembrou pro filhote que, o que estava escrito significava o nome de um bicho fedorento.
Vicente pensou... pensou... Foi então que se lembrou que no dia anterior lá no engenho do pai haviam matado uma maria-tacaca (espécie de gambá nordestino) e a meninada correu toda pra longe do bicho por conta do seu cheiro ruim. Então, gritou com ar de sabichão: já sei mamãe! E orgulhoso soletrou: B...O... BO – D...E... DE... MARIA-TACACA.
E a mamãe sorriu com a tirada do Vicente.
Pois é, tem muita gente grande por aí mais enrolada na arte de soletrar do que o menino Vicente
Já que falei em cheiro ruim, sei lá... Mas essa mal soletrada crise nos mercados financeiros deste mundo globalizado, está mais para Maria-Tacaca do que bode; tomara que não afete a vida do vovô, da vovó, do papai, da mamãe, dos titios, da professora e dos coleguinhas, inclusive do Vicente.
Nesta mistura de alho com bugalho, mais uma: sabia o caro leitor que, se Napoleão tivesse sido 15 centímetros mais alto não teria tido necessidade de compensar seu complexo de inferioridade. Teria ficado satisfeito em ser apenas um pacato oficial de província e a França não teria transformado a face da Europa. É o que dizem.