MUDANÇAS
Não sei se mudanças estão ocorrendo, porém, quando me situo no mundo que segue de uma forma caótica, fico abismado com tudo o que vejo.
Observo as horas, no entanto parece que o tempo acelerado do jeito que se encontra me transforma em vítima de mim mesmo.
Coisas, pensamentos e desejos que penso em executar ficam no meio da estrada, o tempo já não dá. Algumas horas perdidas se encontram em uma lacuna deste mesmo tempo.
Sentimos e olhamos tudo de uma forma diferente, procuramos encontrar no olhar de nosso semelhante uma correspondência que possa servir de anteparo aos nossos anseios, porém tudo é em vão, tudo é nada.
Os carros passam velozes e carregam as formas distorcidas de uma grande maioria da sociedade que nem mesmo sabe o rumo que deve seguir.
Encontro no meio das ruas e calçadas pessoas transitando sempre com pressa, sem nunca saberem a que destino vão.Seus anseios não passam de formas destorcidas de uma realidade que nem mesmo eles sabem.
Quando observo os pássaros que voam em direções opostas, procuro voar nessas mesmas asas, buscando meu rumo e destino onde eu possa pousar.
Seguindo meus passos sinto-me sozinho, abandonado no mundo onde somente se vêem seres confusos de mentes vazias, sem destino e objetivo.
A segurança torna-se desculpa a todos que fogem do seu semelhante, procurando, dentro de sua individualidade, ficar ainda mais preso em suas angústias e lamentações.
As crianças, levadas por mães apressadas, apenas esboçam pequenos movimentos, tentando a liberdade que nunca será alcançada, pois se encontram presas a um sistema de medo.
Já não mais conseguimos ter tempo para ouvir e sentir a natureza. Tudo nos impele para seguir um rumo sem rumo.
Os ventos que sopram, o perfume das flores, o cantar de um pássaro, as nuvens que passam velozes tocada pelo vento, são apenas vagas situações que se colocam no mundo e que quase ninguém consegue ver.
O tempo, carrasco cruel aprisiona todos com suas garras e cada um em suas atividades se entrega a uma corrida veloz sem rumo a um destino que beira ao caos.
As conversas ficaram esquecidas diante de uma tv, que aliena e acaba os laços da família que deveria ainda ser reerguida.
Os pilares do lar acabaram-se diante dos desejos insatisfeitos, somente seguimos aquilo que nos dita campanhas elaboradas para seguirmos um caminho irreal, criado que foi para objetivos determinados.
Somos escravos de sistemas falidos e nunca ousamos gritar ou tentar libertar-nos, pois os donos das vidas e das almas criam as ilusões que nos mantêm cativos e satisfeitos com tudo, com migalhas que são jogadas.
Pensamos ser livres e não passamos de escravos de um sistema que massacra e nos conduz a um só rumo e destino.
A obediência cega é preceito normal, os que dirigem se acham intocáveis e vendem para todos uma figura de inteligência e integridade, porém não passam de bonecos que são manipulados por aqueles que se encontram por debaixo e por detrás da cortina que foi criada e que é mantida fechada.
E o tempo que passa veloz é pouco notado, por não fazer parte de suas preocupações, pois elas se limitam à saciedade de seus desejos e suas ilusões.
Nascemos e somos criados dentro de um contexto, onde Deus é o grande carrasco da humanidade, que condena e expropria de suas criaturas sua liberdade.Tudo isto dentro de uma ótica caótica daqueles que dizem em púlpitos com voz inflamada e prometem tudo e mesmo eles não sabem o que é.
O Cristo é crucificado todos os dias perante multidões insanas que se comprazem com seu sofrimento.Somos salvos de demônios que nós mesmos criamos e o pobre diabo sofre calado as injúrias de tanta ignorância que o coloca em um pedestal, equiparando-se a Deus.
E seguindo os desmandos de vozes que se alternam no mundo como voz de comando, pensamos que a felicidade passa a ser resumida naquilo que adquirimos e temos. O mais importante ainda não conseguimos conquistar.
Somos escravos manipulados por todos os lados, pagamos aquilo que recebemos e quando não recebemos somos compelidos à angústia e ao sofrimento.
A liberdade passa a ter a conotação de uma palavra sem significado.Quando ousamos levantar a voz, falar do que sentimos, somos calados diante da estupidez que sempre grita mais alto.
Um bando de loucos e estúpidos que ocupam espaços deixados, se auto proclamam defensores de direitos do povo. Falam e repetem sempre as mesmas palavras como se fossem apenas para dirigirem seus bandos de um lado para outro.
Enquanto o tempo se acelera, entramos e caminhamos por diferentes dimensões e tudo parece real diante das formas que se cristalizaram dentro do nosso subconsciente.
A todo o momento destruímos ídolos e criamos outros para nos manter cativos, presos e aprisionados com medo de ousar pensar ou falar aquilo que sentimos e pensamos.Se falarmos aquilo que é real, tudo não passa de uma palavra falada por um louco atrevido que nunca será ouvido.
Os conceitos e preconceitos foram normas criadas para desacreditar todo louco e insano que ouse se aventurar através do pensamento e falar de coisas ainda não concretas.
Temos que ser submissos ouvir e obedecer a todos, a menos que passemos para o lado daqueles que mandam e criam as ilusões que devemos seguir.
Não podemos ser livres, pois somos preteridos diante das regalias e favores do mundo.
Não podemos falar e logo nossas palavras viram heresias, pois não fazem parte do sistema falido, da farsa montada para nos manter cativos com a ilusão de liberdade.
Somos obrigados a seguir os passos de outros que seguem o mesmo caminho, rumo a um destino previsto, porém pouco acreditado. Um mundo escuro e obscuro, onde a mente tem que andar numa trilha vigiada e mantida por seres que manipulam a todos de uma forma cruel.
Temos que viver apenas em num mundo concreto, de formas quadradas, não podemos sonhar com o ainda não sonhado.
O pecado nos empurra a um inferno dantesco, que toma forma de mundo real. O céu desejado pelos pobres coitados só será adquirido por aquele que se sujeitar a todas as normas ditadas sem nunca dizer não.
Tudo é pecado num mundo onde o medo passa ditar as verdadeiras normas de conduta.
Enquanto tudo isto se passa nesta eterna luta entre o ser o não ser , o mundo continua voraz, como verme que se alimenta dos corpos criados para satisfazer seus apetites vorazes e insanos.
Deixamos de ser deuses para sermos apenas um bando que vai de um lado para outro, procurando apenas um curral que nos cerque e nos livre das feras que existem do lado de fora. Feras estas criadas para nos amedrontar e nos manter presos.
O mundo continua reduzindo o seu tempo, enquanto passa por espaços antes nunca navegados, vamos seguindo isto. As formas dos reinos inferiores se transformam e apenas nós não notamos porque nos fizeram acreditar que a criação havia terminado.
E nessa constante luta entre as correntes que mantêm o equilíbrio do mundo, sofremos pensando sermos felizes.
E quando chegarmos ao termo final do que nos foi prometido, ainda estaremos inconscientes por não sabermos que tudo isto não passa de uma ilusão que foi criada para nos manter presas de um mundo irreal.
10/05/03