Missa Luba
Edson Gonçalves Ferreira
Quando? Não sei, só sei que, na década de 80, o músico Jacinto Guimarães (in memoriam), as musicólogas Beatriz e Arminda Gontijo e eu, reunimo-nos no famoso casarão do Chico Doido, pais dessas amigas, para tirarmos, na famosa vitrola importada, com caixas de som feitas por meu pai Arlindo Ferreira (Bigode), ouvindo o disco, a partitura da Missa Luba que, se não me engano, é cantada a seis vozes.
Reunimos naquele sobrado fantástico, vários dias, ouvindo, ouvindo e ouvindo a Missa Luba que é cantada em Latim, sob o som de tambores, reco-recos e demais instrumentos de percussão comuns da África onde foi cantada, originalmente. Foi um trabalhão elaborar a partitura. Eu, que sou o mais fraquinho no meio dos amigos citados, em questão musical, só colaborava, porque eu seria o solista da missa.
Sempre havia discussão sobre uma nota entre os músicos Jacinto Guimarães e Arminda Gontijo, duas pessoas altamente competentes na leitura de partituras e instrumentistas fantásticos e, também, Beatriz Ferreira Gontijo dava a sua contribuição, porque é competente pianista. E, assim, pouco a pouco, foi surgindo a partitura da Missa Luba.
Depois, os ensaios com o Coral Divinópolis começaram. Eles eram escondidos da maestrina Djanira Luiza dos Santos, fundadora dele e que, até hoje, o rege. Sim, ensaiávamos escondidos, porque a Missa Luba seria apresentada no dia do aniversário dela, no Instituto Nossa Senhora do Sagrado Coração. Era um sufoco. Como sou tenor e barítono, fiquei com o solo e para alcançar os agudos da partitura foi preciso muito treino e incentivo do maestro Jacinto Guimarães.
No dia da apresentação da Missa Luba, no Instituto Nossa Senhora do Sagrado Coração, organizamos o altar com troncos e galhos de árvores que, também, enfeitavam todo o salão. A maestrina Djanira Luiza dos Santos estava na primeira fila. Nós, os componentes do Coral Divinópolis, entramos, solenemente, todos vestidos de túnica de americano cru, com chocalhos feitos de latinhas de cerveja, cheias de pedras, amarradas nas pernas, dançando ao som da música maravilhosa.
Eu, que era o solista, tinha me pintado todo de negro, para personificar um valoroso membro de uma tribo africana, dançava, freneticamente. A Missa Luba é lindíssima. São seis vozes sobrepostas e o solista entra, quase sempre, fazendo o contraponto e, no Agnus Dei, por exemplo, ele atinge notas agudíssimas. Foi uma celebração litúrgica fantástica e, ao mesmo tempo, uma bela apresentação musical. Até hoje, nos meus ouvidos, ressoam os tambores e as vozes dos cantores e o perfume do incenso daquela noite fantástica em que cantamos a Missa Luba, com partitura elaborada por Jacinto Guimarães (in memoriam), Arminda Gontijo e colaboração desse poeta e cantor.
Divinópolis, 08.10.08