Amor sem palavras
Hoje recebi um texto de um amigo. Gostaria de sua opinião – ele disse. E eu estava ocupada. Mas ele insistiu: é só um parágrafo. Leia e me diz o que achou.
Ok, eu disse. E não fiz o que disse que faria. Fiquei um tempo olhando para o texto sem ler... Às vezes tenho isso, olho para as palavras e não consigo ler, porque as primeiras palavras, ou as seguintes, ou a essência do texto... Ou a cabeça cheia de idéias ou as criações... Ou ainda sabe-se lá o quê... mas algo me remete a outra coisa, a outro lugar, a outro estado (emocional, psicológico...). Meus olhos paralisam diante de alguns textos, mas minha mente continua a fluir...
O fato é que não li o parágrafo. Diante do texto de meu amigo, ela (minha mente) simplesmente passou a um texto de Drummond (um que conheço de cor, de tanto ler, reler, viajar, e escrever a respeito...). E dali, fui “embora” com eles (Drummond, as palavras e “as sem-razões” do amor)...
“Eu te amo porque te amo, / Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo./ Eu te amo porque te amo./ Amor é estado de graça/ e com amor não se paga.../Amor é dado de graça,/ é semeado no vento,/na cachoeira, no eclipse.Amor foge a dicionários/ e a regulamentos vários.../ Eu te amo porque não amo/bastante ou demais a mim./Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama...”
- Gostou? – perguntou-me.
- Hum? – respondi.
- Gostou? – repetiu a pergunta.
- Hum...
- O texto que acabei de mandar...
Era meu amigo, que me trazia de volta da viagem a Drummond...
- Ah, sim, o texto!
Fui ler o parágrafo que me mandara. E lá, logo de cara, estava o motivo pelo qual eu havia “viajado” para as letras de Drummond... O texto do meu amigo falava sobre a não-explicação de um amor. E a vontade de, nesse contexto de não-explicação, explicar o que não se tem nome.
E aí me lembrei disso: das sem-razões de Drummond para o amor...
Penso como o poeta. E mais ainda, toda vez que leio um texto que fala sobre o amor como um sentimento sem explicação, sobre algo que pensamos em não explicar como ou por que sentimos, na verdade, penso que já estou diante de algo que busca uma explicação. Só que não temos nomenclatura para tal. E por isso usamos a palavra “amor”. E depois dizemos que isso: o amor (a palavra ou o sentimento) não tem explicação.
O texto do meu amigo me remeteu ao texto do poeta e à falta de palavras que se tem diante do algo que não precisa delas... Agora, cá entre nós, por que será que temos tanta necessidade de querer expressar em palavras algo que vive tão bem sem elas? Não é melhor só viver, sem dizer por que se vive isso que se está vivendo?
São as “sem-razões” do amor.. E acho que o fato de queremos explicar ( e não conseguirmos) é que explica o que estamos sentindo...
Isso (seja lá o que for) é algo tão gostoso, tão intenso, tão nosso, que não precisamos usar palavras de outros (sejam lá os que forem). Não precisamos, mas sentimos vontade de fazê-lo... Pode coisa mais sem-razão?
Mas queremos usar algo inusitado, algo que ainda ninguém usou, nem sentiu, ou disse. Geralmente para expressar aquele sentimento de “quebrar paradigmas”, “ultrapassar barreiras”, de “renascimento”, de “vontade de viver” ou “de morrer”...
Ou nada disso. Ou tudo isso junto...
A gente quer algo particular para definir o acontecimento. Mas ainda não inventamos a palavra.
O caso é que a forma como não – explicamos, ou não-conseguimos-explicar é a face da fase que vivemos. E que, por sinal, é linda, e completa.
Mesmo sem explicação.
(Adriana Luz – 07 de outubro de 2008)
Hoje recebi um texto de um amigo. Gostaria de sua opinião – ele disse. E eu estava ocupada. Mas ele insistiu: é só um parágrafo. Leia e me diz o que achou.
Ok, eu disse. E não fiz o que disse que faria. Fiquei um tempo olhando para o texto sem ler... Às vezes tenho isso, olho para as palavras e não consigo ler, porque as primeiras palavras, ou as seguintes, ou a essência do texto... Ou a cabeça cheia de idéias ou as criações... Ou ainda sabe-se lá o quê... mas algo me remete a outra coisa, a outro lugar, a outro estado (emocional, psicológico...). Meus olhos paralisam diante de alguns textos, mas minha mente continua a fluir...
O fato é que não li o parágrafo. Diante do texto de meu amigo, ela (minha mente) simplesmente passou a um texto de Drummond (um que conheço de cor, de tanto ler, reler, viajar, e escrever a respeito...). E dali, fui “embora” com eles (Drummond, as palavras e “as sem-razões” do amor)...
“Eu te amo porque te amo, / Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo./ Eu te amo porque te amo./ Amor é estado de graça/ e com amor não se paga.../Amor é dado de graça,/ é semeado no vento,/na cachoeira, no eclipse.Amor foge a dicionários/ e a regulamentos vários.../ Eu te amo porque não amo/bastante ou demais a mim./Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama...”
- Gostou? – perguntou-me.
- Hum? – respondi.
- Gostou? – repetiu a pergunta.
- Hum...
- O texto que acabei de mandar...
Era meu amigo, que me trazia de volta da viagem a Drummond...
- Ah, sim, o texto!
Fui ler o parágrafo que me mandara. E lá, logo de cara, estava o motivo pelo qual eu havia “viajado” para as letras de Drummond... O texto do meu amigo falava sobre a não-explicação de um amor. E a vontade de, nesse contexto de não-explicação, explicar o que não se tem nome.
E aí me lembrei disso: das sem-razões de Drummond para o amor...
Penso como o poeta. E mais ainda, toda vez que leio um texto que fala sobre o amor como um sentimento sem explicação, sobre algo que pensamos em não explicar como ou por que sentimos, na verdade, penso que já estou diante de algo que busca uma explicação. Só que não temos nomenclatura para tal. E por isso usamos a palavra “amor”. E depois dizemos que isso: o amor (a palavra ou o sentimento) não tem explicação.
O texto do meu amigo me remeteu ao texto do poeta e à falta de palavras que se tem diante do algo que não precisa delas... Agora, cá entre nós, por que será que temos tanta necessidade de querer expressar em palavras algo que vive tão bem sem elas? Não é melhor só viver, sem dizer por que se vive isso que se está vivendo?
São as “sem-razões” do amor.. E acho que o fato de queremos explicar ( e não conseguirmos) é que explica o que estamos sentindo...
Isso (seja lá o que for) é algo tão gostoso, tão intenso, tão nosso, que não precisamos usar palavras de outros (sejam lá os que forem). Não precisamos, mas sentimos vontade de fazê-lo... Pode coisa mais sem-razão?
Mas queremos usar algo inusitado, algo que ainda ninguém usou, nem sentiu, ou disse. Geralmente para expressar aquele sentimento de “quebrar paradigmas”, “ultrapassar barreiras”, de “renascimento”, de “vontade de viver” ou “de morrer”...
Ou nada disso. Ou tudo isso junto...
A gente quer algo particular para definir o acontecimento. Mas ainda não inventamos a palavra.
O caso é que a forma como não – explicamos, ou não-conseguimos-explicar é a face da fase que vivemos. E que, por sinal, é linda, e completa.
Mesmo sem explicação.
(Adriana Luz – 07 de outubro de 2008)