DE REPENTE EU NÃO SABIA ONDE ESTAVA

DE REPENTE, NÃO SABIA ONDE ESTAVA...

Acabei de passar um e-mail pra Solange, para o âmbito do subjetivo em que pensei e senti coisas do Piauí e meu espírito foi para o Piauí e para o espírito da amizade, do amor, e foi um ato tão verdadeiro que vaguei na área do inconsciente sentindo emoção com as pedras de lá, como coisas íntimas do meu coração... Não sei quanto encanto aquele lugar me transportou... Será possível amar uma terra, um solo? Um lugar? Foi forte a emoção que aquele chão me passou, estou ligada emocionalmente àquelas pedras com um amor tão desvairado que não consigo entender. Pensei que a gente só amasse pessoas. No Rio amo a cidade junto com o povo e toda a sua beleza e a vida que aqui tive. Em Paris queria morar por causa da cor das folhas do setembro de lá. Minas amo pela minha infância.

Mas o estado do Piauí me significou tanto que ainda não entendi. É como um homem que chega e dele você se fascina, feito a paixão que vai encantando sem a gente se dar conta e a gente fará tudo que ele quiser num envolvimento irracional de fascínio. Eu trouxe seixos de pedra de lá. Preciosas. Trouxe como um tesouro, com amor. Quando pego na mão aquela mais perfeita, a primeira colhida no chão de Barreirinho, lavada e cuidada, quando a seguro contra a face eu me arrepio toda e sinto vontade de chorar, uma emoção que não sei, acho que tristeza igual quando a gente perde um namorado...

E nada aconteceu no Piauí, só peguei naquele barro, aquela argila preciosa que eu queria esculpir, queria arte, escultura livre e não cerâmica. Acho que posso dizer que amei a beleza, senti a arte e não me expressei nela e com ela. É por aí a minha questão. Quando me dei conta que tudo ali estava me conquistando, me roubando de mim mesma, eu senti saudade de mim. Isto foi tão forte. Foi imperativo e quis me salvar, e fugi de volta pra mim mesma. Foi urgente. Só tive paz quando sentei na cadeira do ônibus de volta pra casa. Eu estava me salvando. E salvei.

Quando terminei de enviar o e-mail, que estava até relutante em mandar cliquei o enviar e parei olhando a parede branca à minha frente, e eu não sabia onde estava assim por um décimo de segundo. Só tinha o monitor na minha frente. Que abismo! Levei um tempo a me situar onde estava.

MLUIZA MARTINS