Os partidos ficaram tão iguais... Eu não votei e ninguém deu pela minha falta.
Há dois dias tento justificar para mim por que cargas d'água eu não votei. Por que eu não votei? E notem que é uma justificação para mim, pois para a justiça eleitoral eu não fui omissa, não fui ausente, mais abaixo explico o imbróglio que tolheu o meu voto.
Era domingo, casa cheia, todos vieram almoçar, eu fui pro fogão, é, eu sei cozinhar. Cozinho pouco desde que não tenho mais marido, mas cozinho nos finais de semana, e isso me dá muito prazer.
Há dois dias tento justificar para mim por que cargas d'água eu não votei. Por que eu não votei? E notem que é uma justificação para mim, pois para a justiça eleitoral eu não fui omissa, não fui ausente, mais abaixo explico o imbróglio que tolheu o meu voto.
Era domingo, casa cheia, todos vieram almoçar, eu fui pro fogão, é, eu sei cozinhar. Cozinho pouco desde que não tenho mais marido, mas cozinho nos finais de semana, e isso me dá muito prazer.
Em alguns domingos no mês, encarno a matrona, respeitável e corpulenta mãe de muitos filhos que para eles, seus amigos, parentes e amores, faz bastante comida. Eu me farto só de vê-los na comilança, isso para mim é felicidade, por sorte a cultivo desde que era mocinha, há mais de vinte anos, bem mais, então, com esse pouco, sou feliz há bastante tempo. Porém, por mais que a sessão "deixe-me empanturrar essa gente" me faça feliz, nunca pensei em abrir mão da minha militância, estou me tornando algo que eu nunca pensei que seria, a vida sempre me surpreende. Ou será que sou eu que não tenho bem definido um plano, uma meta de perfil a ser atingido? Não tenho essa resposta e nem morta volto para a terapia a fim de buscá-la.
Já fui tão militante... Já fiz boca-de-urna de graça, já briguei com amigos e parentes por ideologias políticas, já tirei dinheiro do próprio bolso para financiar santinhos, broches e camisetas por partido e candidatos que eu acreditava que fariam a diferença. Para vocês terem uma idéia da gravidade do meu engajamento, eu, uma amamentadora convicta, cheguei a largar bebê sem seio por mais de seis horas para fazer pesquisa de boca-de-urna por conta própria. Eu acreditava que eu fazia a diferença, eu sozinha podia mudar tanta coisa, meu Deus, cadê as minhas crenças? Cadê? Alguém sabe? Alguém viu?
Enfim, domingo passado todos foram me visitar depois de ter votado e eu falava, cantava, ouvia, cozinhava, beliscava e dizia, daqui a pouco eu vou votar. Daqui a pouco eu vou votar. Daqui a pouco, ahn? Que horas? Faltavam dez minutos para às cinco da tarde quando finalmente percebi que não havia mais como enrolar, ou eu ia ou assumia que não queria participar do pleito. Como assumir alguma posição definitiva também tem sido difícil, fui votar e cheguei a tempo, na hora exata, porém, na minha sessão não aparecia ninguém há alguns minutos, então, a mesária havia desligado a urna antes do prazo. Deixem-me falar com exatidão, adoro isso: dois minutos antes.
Impediram-me de votar!
Nem fui eu quem reclamou isso, foi o responsável pela sessão que fez constar em ata o erro da mesária e que ela assumisse a falha. Vocês devem estar se perguntando, e você? Não fez nada para a moça não ser repreendida? Eu não fiz, confesso, não fiz. Embora a minha vontade de votar fosse nula, fiquei quieta, olhando tudo como se eu fosse apenas uma espectadora, nem de coadjuvante posei nessa eleição. Para não dizer que não fiz uma mea-culpa, embora o responsável tenha me autorizado a trocar o papel que ela me deu que dizia que eu é que tinha chegado atrasada, eu não o troquei, deixei-o como estava, justificado.
Nem fui eu quem reclamou isso, foi o responsável pela sessão que fez constar em ata o erro da mesária e que ela assumisse a falha. Vocês devem estar se perguntando, e você? Não fez nada para a moça não ser repreendida? Eu não fiz, confesso, não fiz. Embora a minha vontade de votar fosse nula, fiquei quieta, olhando tudo como se eu fosse apenas uma espectadora, nem de coadjuvante posei nessa eleição. Para não dizer que não fiz uma mea-culpa, embora o responsável tenha me autorizado a trocar o papel que ela me deu que dizia que eu é que tinha chegado atrasada, eu não o troquei, deixei-o como estava, justificado.
Aos poucos, à medida que o tempo passa, os anos se vão, estou sendo engolida pelo mundo e este mundo tem um apetite muito especial, de entrada, seus petiscos são as minhas crenças mais secretas seja na política, no amor, ou nas pessoas. Não sei o que ele vai querer levar de mim quando essa parte acabar, pois assim que as crenças acabarem não sobrará nada, minha alma terá ido embora, embora, com o corpo ainda se dê para fazer muita coisa.
Não pensem bobagens, não quero falar de sexo hoje, estou me referindo aos transplantes de órgãos. Um segundo para eu rir, sou uma lunática mesmo, quem iria querer meus pulmões, meu fígado e meus rins? Bebo e fumo há mais de trinta anos, quando eu terminar de consumir tudo o que Deus me deu, não irá sobrar nada.
Não pensem bobagens, não quero falar de sexo hoje, estou me referindo aos transplantes de órgãos. Um segundo para eu rir, sou uma lunática mesmo, quem iria querer meus pulmões, meu fígado e meus rins? Bebo e fumo há mais de trinta anos, quando eu terminar de consumir tudo o que Deus me deu, não irá sobrar nada.
Voltando ao começo dessa prosa, por que eu não votei? Por que eu não queria votar? Achei a resposta num texto do meu amigo Norian, do blog www.sindicalismoecultura.blogspot.com.
O texto começa assim:
Há 20 anos quando uma turma de “autênticos” saiu do PMDB bradando por ética e por um partido com princípios parecia para alguns que o cenário político brasileiro finalmente teria um representante da social democracia ao estilo europeu. Configurar-se-ia, assim, o tripé da democracia representativa burguesa, com um partido de bases de esquerda (PT), a social-democracia do PSDB e um partido que aglutinaria os setores mais conservadores da sociedade, hoje representado pela sigla DEM. Entre um e outro espectro, agrupamentos à esquerda mais radicalizados e sem base social (que o velho Lenin considerava a doença infantil do comunismo) e uma chuva de asteróides de fisiológicos espalhados por siglas que mais ninguém lembra o que se referem, como o próprio PMDB, o PTB, PDT, PPS e por ai vai. O PV, outro partido de inspiração européia, só herdou de seu primo europeu o nome, no Brasil exerce com competência sua missão de ser um balcão de negócios – caminho que o PCdoB aprende e aperfeiçoa rapidamente.
E o texto termina assim:
Só para constar
Em São Paulo disputam dois projetos; no Rio a população nem tem essa opção. Ninguém merece ter que escolher entre Eduardo Paes e Gabeira, o eterno e o neo reacionário.
Aconselho-os a ler, assim acharão respostas para essa vontade de não votar, não escolher, da qual acredito que não fui a única acometida, afinal, o cenário é tão igual, não há o que escolher, direita, esquerda, neo, social-democracia, nada se opõe, tudo se negocia.
Depois de escrever este texto catarse, respiro, releio e sinto-me limpa e inspirada como sempre, é quando me vem a frase: Talvez os meus olhos, depois da minha morte os meus olhos podem ser que sirvam para alguém, num corpo novo, quem sabe, eles vejam a esperança que eu não consigo achar.