Que fazer?

O Jovem perguntava-se, atónito - Como poderiam existir sentimentos de ternura e afeto em meio a tanta miséria e sofrimento?

Não compreendia. O mundo lhe parecia tão desgostoso. E, no entanto, ninguém aparentemente se importava. Estaria pensando disparates?

Franziu o sobrolho. Não lhe cabia em mente uma contradição de tamanha protuberância. Como podiam os homens festejar enquanto outros estavam a definhar? E o amor então lhe aparecia como o mais hipócrita dos sentimentos. Dedicar-se inteiramente a uma só pessoa enquanto há milhares que necessitam de afeto e atenção? Como podem os amantes esquecerem-se de uma legião de desafortunados e se importarem unicamente consigo mesmos, como se fossem os únicos a convir para o mundo? De certo que eram os mais egoístas de todos.

Urgia de impaciência, angústia. Queria destruir o mais afável dos sentimentos. O mundo deveria permanecer em luto até que o último miserável tenha conhecido a felicidade. Era nisso que acreditava. Perante o sofrimento que se lhe apareceu pela primeira vez aos olhos, a maior de suas alegrias se transformara em uma pequena mancha colorida em meio a um mundo cinza e negro. Já não podia voltar atrás.

Perguntava-se, agora - Que fazer?