Chegou a primavera

Chegou a primavera trazida pelo vento. A sensação para quem mora aqui no extremo sul do Rio Grande do Sul é a de que o vento chega para trazer as flores e levar consigo a umidade para o hemisfério norte. Todos afirmam por estas bandas que a cidade de Pelotas só perde em umidade para Londres.

Sinto na mudança de estação algo de renovador. Trocam-se as roupas. As do inverno são lavadas e guardadas para o próximo frio e as de verão que jaziam esquecidas vão diretamente para a máquina de lavar, ou para o tanque, ou para tomar sol. Descartes e doações também são bem-vindos.

As trinchas encharcadas de água sanitária não param. Tudo é lavado. Desde as paredes, janelas até as calçadas. Não escapam da faxina os edredons, cobertores e as pantufas. As janelas são abertas, não tanto como gostaríamos, por causa da ventania, mas já é o bastante para quem passou meses hibernando debaixo de uma neblina intensa.

O sol começa a aparecer e traz o calor para os olhares um tanto descrentes dele. Os ufólogos, se morassem em Pelotas, teriam a certeza da inexistência de ETs , se não já teriam aterrissado por aqui trazidos pelo vento primaveril.

Acredito que as pessoas magras devem andar na rua com pedras nos bolsos para não correrem o risco de serem levadas para planetas desconhecidos. O vento parece chegar para fazer a troca de energia necessária à vida. Nas casas, nas ruas e despertar as flores do sono profundo.

Dito assim, parece um desprezo ao gelado-úmido-inverno que nos aconchega tão generosamente por meses. Ah! E as sopas! Que nos aquecem nas noites geladas? E a reunião da família em volta do fogo, conversando, ou assistindo um bom filme? E o vinho em homenagem ao deus Baco! De tudo isso é feito o inverno. De frio e de calor. De recolhimento e de um bom papo.

Li uma vez em algum lugar do passado que a sabedoria da vida está em aprendermos a conviver com todas as estações. O vento é o nosso teste do momento.

02.10.08