A INTOLERÂNCIA
A maioria das pessoas gostam de falar, mas não sabem ouvir. Ou seja, têm sua opinião formada sobre tudo, mas se esquecem que estamos num mundo múltiplo de idéias e de forma de pensar diferente, conquanto, como seres racionais e como defensores de nossa individualidade, sempre queremos ser vistos como engrenagem do conteúdo social e, diante disso, as pessoas se sentem mal quando verificam que não são ouvidas por aqueles que a rodeiam. Assim, um chefe, amparado pelo seu poder de comando, não se enquadra no universo do quadro funcional e se torna aquele 'mandão' mor, achando que tudo que faz é a melhor solução para os problemas. No entanto, caso repensasse essa forma de agir, teria em seu favor uma somatória de idéias e poderia extrair dessa coletânea algo que talvez ainda não tivesse pensado.
Hoje recebi um e-mail ilustrando uma briga entre um casal porque o filho (de nove anos) chegou e disse para a mãe: - Estou com um problema com a bebida. A mãe, irritada com o pai e querendo achar uma forma de tripudiá-lo arremessou aquela afirmação contra as atitudes do pai, passando a dizer – incontinenti – que a culpa era dele (que não parava de beber) e esse exemplo acabou influenciando o filho. Ou seja, a mãe nem sequer observou que o filho em tenra idade, não poderia de forma alguma estar bebendo. O que ela realmente queria não era ouvir e sim falar mal do pai, sendo indiferente (para ela) qual era o problema que o filho queria ilustrar. O filho chamava atenção da mãe, querendo explicar melhor o que tentou dizer, mas ela não ouvia porque estava absorta na sua retórica de ofender o marido. Finalmente, depois da criação de um ambiente hostil e impróprio para pessoas que se amam, ficou esclarecido que o filho queria dizer que era um problema da escola e que havia números relacionados com outro tipo de bebida e não a alcoólica.
Está claro pelo episódio acima que cada um ouve o que quer e de acordo com sua mente poluída, quando não deseja que as coisas trilhem pelo caminho da paz e da tranqüilidade. Assim são os mal-entendidos, quando uma a pessoa receptora de determinada mensagem a recebe com lances de ironia ou de sarcasmo, muitas vezes nem é porque não entendeu direito a mensagem, mas sim porque deseja fazer daquele ingrediente um elo de desarranjo e de desencontros, semeando discórdia apenas pelo prazer de ver as pessoas mal relacionadas.
A fala é um elemento substancial em nossa vidas. No entanto, saber ouvir é uma linha divisória entre ela (fala) e a capacidade de entender as mensagens dos outros. Já dizia o velho adágio popular: “Quem não se comunica se estrumbica”. Isso quer dizer que quem não fala e se cala em certos momentos, pode não alcançar seus objetivos, pois não será entendido por quem de direito. Ocorre que nossas relações no meio social exige diplomacia, respeito, atenção comum, reciprocidade, para que não venhamos a estabelecer um muro de transposição que possa tolher as mensagens alheias, porque elas são importantes no setor da comunicação, até porque não deixando as pessoas falarem o que pensam, além de estarmos frustrando suas iniciativas, corremos o risco de perdermos uma boa idéia.
Esse critério vale para todos os setores de nossa vida. Um casal que se comunica mal, ondes os cônjuges estabelecem uma barreira que tornam fúteis os argumentos alheios, há se observar muitos pontos de discórdias e de atritos pessoais que vão desde as brigas constantes até os rompimentos definitivos da relação conjugal. Aliás, ouvir o companheiro ou a companheira é um sinal de amor, até para que o outro possa dimensionar o que é suportável ou insuportável sob o ponto de vista da convivência comum.
Assim, havemos de considerar que ouvir é uma substância que está vinculada à essência da vida humana. Aliás, ao observamos os princípios básicos do jornalismo profissional, notamos que sempre que há uma notícia na mídia é necessário que sejam ouvidas as duas partes envolvidas nos fatos, sob pena de ruptura de um princípio inalienável no mundo da comunicação que é a ética da informação.
Não há dúvida, porém, que não saber ouvir gera a intolerância. Ninguém tolera aquela pessoa que se julga o máximo e está acima de todos e de tudo. O pior é que a pessoa que reúne tais anomalias, demora a perceber que sua atitude causa indignação nas pessoas. Invariavelmente essa pessoa só irá perceber que sua forma de agir é errada, quando já está ilhada num mundo só seu, de exclusividades e de individualismo, a tal ponto de ninguém querer estar a seu lado. Quando a “ficha cair” verá que terá de percorrer um caminho inverso e certamente terá dificuldade para se adaptar à novo fórmula de convivência. “Antes tarde do que nunca”, diria o sábio provérbio.
No entanto, quando a pessoa passa a enxergar e também a usufruir da nova etapa da sua vida, compartilhando suas idéias e absorvendo o conhecimento alheio, irá ingressar num novo mundo. Verá que perdeu tempo em sua vida exercitando sua exclusividade. Abrirá horizontes para uma infinidade de emoções, porque o calor do pensamento alheio é capaz de fomentar a inspiração do Universo, abrindo um leque de oportunidades para a felicidade, passando a conhecer os benefícios da solidariedade, da filantropia, da entrega, da confiança, da reciprocidade, enfim, de todos aqueles nuances de vida que sugerem que as pessoas andem de mãos dadas.
O mundo precisa de pessoas que saibam ouvir. Nossos governantes devem ouvir a voz do povo. As massas humanas compartilham a energia do bem. A corrente da felicidade é aquela que gera os fluídos do amor. Nesse contexto de trocas comuns estará a mão de Deus que também irá esboçar um sorriso junto com todos nós, pois a partir desse momento o homem terá aprendido que é mais fácil andar junto do que caminhar sozinho na escuridão e prestes a cair no abismo.