DEVASSO ERA SUA SANTIDADE

Enquanto Nero toca fogo em Roma e põe a culpa nos cristãos, cabe a nós cordeirinhos do Senhor observar à distância o incontrolável sinistro para ver até onde sobem as labaredas e a quantos chamuscará. Após o rescaldo,se houver mortos e feridos, por eles choraremos

No mais é jogar conversa fora e eu que não sei falar de rosas falarei do quê..? Não sendo eu mestra nem o caro leitor meu discípulo, sem o esforço que o compêndio escolar exige, falarei pois de mais um vulto feminino da História Universal.

É sobre Lucrecia Bórgia, que tecerei de forma superficial alguns comentários:

Lucrecia Bórgia, nascida em Roma no ano de 1480 e falecida em 1519, foi uma das mais atacadas e menos conhecidas figuras da História . A imagem de uma mulher do Renascimento, que gostava de dançar, de teatro e poesia, mas obrigada ainda jovem a ingressar na arena política, nos é desconhecida. Comumente, o que sabemos dela, é que era amante do pai e do irmão, assassina dos maridos que teve.

Tais afirmações parece que carecem de fundamento, principalmente por se tratar de acusações feitas pelos inimigos políticos do pai de Lucrecia em quem concentraram todo o seu ódio. Pelo que se sabe, devasso era o cardeal Rodrigo Bórgia, que se fez papa tomando o nome de Alexandre VI, isto no ano de 1492. Sua santidade era o pai de Lucrécia. O Cardeal de Valença, César Bórgia, irmão da difamada, também não era flor que se cheirasse, era tido por muitos autor das mortes de um irmão, de dois maridos e de um amante da irmã. Foi na pessoa de César Borgia, que Maquiavel ( na época correspondente de guerra da neutra Florença) inspirou-se para escrever sua obra-prima “ O Príncipe”, em 1513.

Por arranjo de Sua Santidade o pai, Lucrécia ficou noiva aos 11 anos de idade. Aos 14 casou-se pela primeira vez; casamento esse que durou apenas 3 anos, tendo sido anulado pelo papa sob a alegação de que seu genro era “impotente e frio por natureza”. Livre e desimpedida, Lucrécia tornou-se amante de um jovem camareiro do pai, que foi morto por César Bórgia, segundo alguns de seus desafetos.

Mais uma vez Sua Santidade, por interesse político, casa sua filha e mais uma vez César Bórgia mata um cunhado.

Finalmente, Lucrecia casa-se pela terceira e última vez, no ano de 1502, e parte de Roma para Ferrara com o marido Afonso d’Este, saindo assim, do jugo do pai e do irmão.

A queda dos Bórgia silenciou os comentários caluniosos acerca de Lucrécia. “A Itália descobre, então, uma mulher inteligente e sensível, preocupada em melhorar a sorte dos súditos, e que, no explendor da corte de Ferrara, busca a felicidade”.

Lucrécia, aos 39 anos de idade, por conta de um parto difícil, onde deu à luz uma menina natimorta, teve o seu estado de saúde agravado. “Ferrara inteira, ansiosa, acompanha sua doença. Todos rezam pelo restabelecimento, o duque Afonso, seu marido; as freiras do Cocnvento de São Bernardo, por ela fundado; os judeus, cuja perseguição ele impediu”.

A 24 de junho de 1519, morria Lucrécia duquesa de Ferrara. As calúnias sobre sua família obscureciam sua imagem, a ponto de tornar quase irreconhecível o vulto feminino a que Ludovico Ariosto, poeta italiano ligado à corte de Ferrara, autor do célebre poema Orlando Furioso, daria o primeiro lugar entre as mulheres de sua época. ( o poema narra a vida de um cavaleiro de Carlos Magno durante a guerra dos sarracenos. Expressa o espírito heróico e naturalista do Renascimento).

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 07/10/2008
Reeditado em 07/10/2008
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