PIAUI NA CABEÇA
PIAUÍ NA CABEÇA
Andando no Centro do Rio, olhando tudo e tudo fazendo, mas Piauí no coração e na mente, a toda coisa observada. Nas pessoas que passam diversas, apressadas, muita diversidade de roupas e níveis sociais e profissionais; uns apressados, outros animados, outros em andar cansado, muitas mulheres vestidas inadequadamente, assim mais ligadas em mostrar as formas do corpo e metidas em roupas feias, sapatos desconfortáveis; é raro ver uma mulher vestida com naturalidade e classe. Os homens idem, mas os executivos todos uniformizados de terno escuro e gravata. Uma diversidade de gentes... Brasil de todos? É de todos os desiguais brasileiros, ou de toda gente aceita do mundo inteiro? Ninguém olha para ninguém, nem à volta, só em frente.
A tudo me trás de volta a sensação de São Raimundo Nonato: a paz, a igualdade de movimentos dos corpos, maioria pobre e simplesmente vestidas, mas as fisionomias de uma identificação que meu filho chamou de pé no chão, ou raízes de sua terra, ou de patriotismo... Eu vi os olhares e sorrisos suaves, gentis, delicados, acolhedores; parece que olham com amizade, amor ou carinho. Eles são meigos, sorrisos mansos, doces, de bem com a vida. Aceitam a pobreza, as limitações. Convivem com as vielas de cimento conduzindo a água de esgoto a céu aberto. Aceitam o sol quente do dia e se enfeitam à noitinha quando o ar é fresco e com ventinho quase frio. Não me lembro de ter visto alguma fisionomia triste ou séria, ou apressada ou violenta. De modo geral, estão quase a sorrir docemente, numa expectativa boa, de alguma coisa melhor a ocorrer... Esperança? De quê? De dias melhores? Confiam. Em quê? É cultural? É a raça? É o clima? Ou é viver sob aquele céu imenso de horizontes de trezentos e sessenta graus abobadado de cúpula de beleza ao nascer o sol e ao entardecer... Deus! Ou é um renovar de vida a cada anoitecer deste céu estrelado onde a Via Láctea é visível e as estrelas se multiplicam com nitidez de brilhos distintos dos planetas em fundo escuro e amplo. O céu lá é maior. A terra é horizontal onde não é serra. É o céu mais bonito do mundo...
E o chão... É coberto de seixos rolados e de pedras coloridas... É o solo mais lindo do mundo. No Centro do Rio, o chão é revestido de pedras portuguesas em desenhos que todos pisam e nem vêem.
MLUIZA MARTINS